O objetivo era de exterminar uma velha máxima
ouvida pelos quatro cantos do Brasil: "o Flamengo
é time de Maracanã, só neste estádio
mostra superioridade". É verdade que, apenas
20 dias antes, o clube carioca conquistara a Taça
Libertadores em Montevidéu, no Uruguai, ao derrotar
o Cobreloa, do Chile. Mas pouco importou para os críticos.
Para convencê-los, o jeito era superar os ingleses.
Com sobras, de preferência.
Tudo indicava que não seria fácil. O Liverpool
passava por uma fase semelhante à do Flamengo,
conquistando títulos há muitos anos. Por
coincidência, a primeira taça importante,
a da Copa dos Campeões da Europa, foi conquistada
em 1978, mesmo ano em que o clube da Gávea vencia
o Campeonato Carioca, dando início a uma era de
ouro em sua História.
A saga vitoriosa do Liverpool seguiria com dois títulos
de campeão Inglês, em 1979 e 80, uma Copa
da Inglaterra, em 81, e uma nova conquista da Copa dos
Campeões da Europa, também em 81. Enquanto
isso, o Flamengo arrebatava mais três Campeonatos
Cariocas, 79, 79 (Especial) e 81, um Brasileiro (80) e
uma Taça Libertadores (81). Os capitães
das duas equipes, Thompson e Zico, deviam estar exaustos
de tanto praticar levantamento de troféus.
Na guerra dos currículos, pior para o clube brasileiro.
Para os especialistas em futebol, as campanhas dos títulos
recentes do Liverpool haviam sido mais árduas.
Por exemplo, em 1981, enquanto o Flamengo vencera o desconhecido
Cobreloa na decisão da Libertadores, o time inglês
superara Bayern de Munique e Real Madrid nas duas últimas
fases – semifinais e final, respectivamente –
da Copa dos Campeões. Pois é, só
que essas teses pouco valeriam em Tóquio. Em campo,
como adoram repetir os jogadores, seriam 11 contra 11.
Durante o jogo decisivo, aí sim, surgiria o favorito.
Os 62.000 torcedores que compareceram ao Estádio
Nacional não tiveram que esperar muito para saber
qual era o melhor time em campo. Aos 13 minutos, Zico
lançou Nunes que viu a saída desesperada
do goleiro Grobbelaar e, ainda fora da grande área,
o encobriu para abrir o placar. "Acidente de percurso",
pensaram os ingleses. Coitados, mal sabiam que o show
rubro-negro estava apenas começando.
Não se pode dizer que o Liverpool não contava
com talentos capazes de inverter o rumo da partida. Os
habilidosos Souness e Dalglish, dois dos maiores jogadores
da História do futebol escocês, poderiam
brilhar a qualquer momento, fazendo o Flamengo tremer.
Tremer? Presta atenção no time dirigido
por Paulo César Carpegiani: Raul; Leandro, Marinho,
Mozer e Júnior; Andrade, Adílio e Zico;
Tita, Nunes e Lico. Havia craques por todos os lados,
vencê-los era tarefa quase impossível.
E o pior para os ingleses era que Zico estava inspirado,
levando à loucura a defesa adversária. Aos
34 minutos, McDermott derrubou Tita na entrada da área
e o Galinho se encarregou da cobrança da falta,
mandando a bomba que Grobbelaar apenas rebateu. Na sobra,
Lico acertou Thompson e Adílio, esperto, estufou
a rede: 2 a 0.
O Liverpool bambeou, faltava pouco para ruir de vez.
A solução era torcer para que o primeiro
tempo terminasse logo, com a intenção de
se recuperar dos ferimentos no intervalo.
A tática estava
acertada, só faltou avisar a Zico e Nunes.
Aos 41 minutos, o maior jogador do Flamengo em todos
os tempos lançou novamente o centroavante,
que avançou para a àrea e bateu firme
na saída do goleiro Grobbelaar. Com 45 minutos
de antecedência, a taça já tinha
destino certo: o Rio de Janeiro. |
|
|
O segundo tempo foi arrastado, chato mesmo de se ver.
O Liverpool não mostrava forças para reagir,
limitou-se a ficar na defesa – talvez temendo sofrer
uma goleada ainda mais humilhante. Os craques do Flamengo
tocavam a bola de pé em pé sem objetividade,
envolvendo os combalidos adversários e esperando
o tempo passar. Foram 45 minutos de total domínio
rubro-negro sobre os ingleses.
Final de jogo e festa no Brasil, o clube mais popular
do país conquistava o mundo. Agora, definitivamente,
o Flamengo não poderia ser chamado de "time
de Maracanã". Afinal, provou ser imbatível
em todo o canto, até mesmo do outro lado do planeta.
FICHA TÉCNICA
|
Data:
13/12/1981
|
Estádio:
Nacional (Tóquio) |
Público:
95.322 pessoas |
Renda:
Não informada |
Árbitro:
Rúbio Vazquez (México) |
|
ESCALAÇÕES |
Flamengo:
Raul; Leandro, Marinho, Mozer e Júnior;
Andrade, Adílio e Zico; Tita, Nunes
e Lico
Técnico: Paulo César Carpegiani. |
|
Liverpool:
Grobbelaar; Neal, R. Kennedy, Lawnson
e Thompson; Hansen, Dalglish e Lee; Johnstone,
Souness e McDermott (Johnson)
Técnico: Paisley. |
|
OS
GOLS DO TÍTULO |
Nunes (13'
1ºT), Adílio (34' 1ºT) e
Nunes (41' 1ºT) |
|