O quadro pendurado na parede da sala não
passa despercebido. Seja para familiares, amigos e até
visitas não rubro-negras. Basta olhar para a camisa
de número 37 emoldurada. Quem não conhece
fica sabendo, e quem sabe do que se trata recorda as memórias
de 7 de dezembro de 2013. Há exatamente um ano,
César estreou no time principal do Flamengo diante
de 41 mil torcedores no Maracanã, fechou o gol
no empate em 1 a 1 com o Cruzeiro e recebeu cumprimentos
até dos adversários. Lá se foram
365 dias até o goleiro, na época terceira
opção e hoje reserva imediato de Paulo Victor,
ganhar uma nova chance: será titular contra o Grêmio
neste domingo, em Porto Alegre.
E haja ansiedade para o goleiro de 22 anos,
que segue os passos de Paulo Victor – a quem chama
abreviadamente de "PV" – no clube e bate
repetidamente na tecla da paciência. Mesmo que,
na prática, isso signifique um certo abatimento
por conter a vontade exacerbada de entrar em campo. Vontade
essa que está diretamente relacionada ao desejo
de construir uma carreira de sucesso e montar uma espécie
de memorial em sua casa, na Zona Oeste do Rio de Janeiro,
onde mora com a esposa Amanda. Responsável por
segurar a barra nos momentos difíceis, ela foi
homenageada ao lado de provérbios bíblicos
na luva do religioso goleiro.
– Para um jogador de futebol é
difícil ficar tanto tempo sem jogar. Às
vezes me sinto muito assim, quero participar, jogar, fico
um pouco ansioso... Quando você trabalha no futebol,
quer contribuir para alguma coisa. Sinto falta, às
vezes chego em casa meio triste, mas claro que entendo.
Tudo tem o momento certo, e procuro estar motivado. Foi
um ano bom de trabalho e difícil de esperar tanto
tempo. Converso com a minha esposa, é ela quem
me motiva e me coloca para cima, foi ela quem me deu força
todos os dias e me fez lembrar que tudo tem seu tempo
– frisou.
Pronto para mais um desafio e à
espera de mais chances em 2015, César trata de
valorizar – e muito – o duelo deste domingo
na Arena do Grêmio, pela última rodada do
Campeonato Brasileiro, mesmo que não tenha nenhum
valor para o Fla em termos de classificação.
"Prova viva" de que cada jogo tem sua história,
o goleiro espera por novos capítulos em sua carreira.
– Vai ser um grande jogo, contra uma
grande equipe. Temos de estar motivados e fazer o nosso
melhor lá. Independentemente de não estar
valendo nada, tanto para o Flamengo quanto para o Grêmio,
cada jogo tem uma história. E eu sou prova viva
disso (risos). Daquela vez também não valia
nada, mas depois ficamos sabendo que o Flamengo perdeu
alguns pontos. Se nós não tivéssemos
feito um ponto contra o Cruzeiro talvez tivéssemos
sido rebaixados. As coisas foram acontecendo de uma forma
que (aquele jogo) pôde ficar marcado – recordou
o camisa 37, que não prometeu novos milagres neste
domingo. – (Risos) Vou procurar fazer meu melhor.
Em pouco mais de 20 minutos de bate-papo,
César comparou sua grande defesa em 2013 com a
melhor de Paulo Victor em 2014, elogiou o técnico
e as broncas de Vanderlei Luxemburgo, revelou assumir
por vezes o papel de "irmão mais velho"
dos companheiros de elenco, mostrou-se favorável
à pré-temporada do Flamengo na Turquia no
ano que vem e contou seus planos para as férias,
que começam nesta segunda-feira. Confira a entrevista
completa:
Você ainda lembra daquele
jogo com o Cruzeiro?
Claro, foi uma estreia maravilhosa. Nem
imaginava aquilo acontecer. Não tem como esquecer.
Depois daquela grande atuação
e de ser reconhecido pela torcida, como foi ter ficado
um ano sem jogar? Bateu saudade?
Para um jogador de futebol é difícil
ficar tanto tempo sem jogar. Às vezes me sinto
muito assim, quero participar, jogar, fico um pouco ansioso...
Quando você trabalha no futebol, quer contribuir
para alguma coisa. Sinto falta, às vezes chego
em casa meio triste, mas claro que entendo. Tudo tem o
momento certo. Procuro estar motivado. Foi um ano bom
de trabalho e difícil de esperar tanto tempo. Converso
com a minha esposa, é ela quem me motiva e me coloca
para cima, foi ela quem me dava força todos os
dias e me fez lembrar que tudo tem seu tempo. Tenho paciência
e torço pelo PV. Minha imensa vontade de jogar
não muda em nenhuma gota minha torcida pelo PV.
Cada vez que ele entra em campo, à cada defesa
que ele faz, eu vibro no campo. Por ter acompanhado toda
a história dele, cada treinamento, ele é
uma referência para mim.
Após aquele jogo, você
disse que iria emoldurar a camisa que usou. A blusa virou
mesmo um quadro?
Fiz, sim. Está na minha sala. Quando
as pessoas veem, elas lembram da minha estreia. Minha
ideia é fazer um memorial, juntar com a taça
da Copa São Paulo, fotos na seleção
(de base)... Essas coisas são gratificantes. Meus
avós e minha mãe guardam tudo que sai sobre
mim. Eles têm uma pasta gigante. Meu avô,
para qualquer um que vai lá, ele tem um orgulho
imenso de mostrar tudo que guardou. Eu trouxe medalhas
e troféus para um armário aqui em casa.
Queria fazer mais, mas a camisa já está
emoldurada.
E depois de jogar com o apoio da
torcida no Maracanã, agora o desafio vai ser fora
de casa, em Porto Alegre, um lugar onde o Flamengo não
costuma se dar bem. O que dá para esperar desse
jogo?
Vai ser um grande jogo, contra uma grande
equipe. Precisamos estar motivados e fazer o nosso melhor
lá. Independentemente de não estar valendo
nada, tanto para o Flamengo quanto para o Grêmio,
cada jogo tem uma história. E eu sou prova viva
disso (risos). Daquela vez também não valia
nada, mas depois ficamos sabendo que o Flamengo perdeu
alguns pontos. Se nós não tivéssemos
feito um ponto contra o Cruzeiro, talvez tivéssemos
sido rebaixados. As coisas foram acontecendo de uma forma
que (aquele jogo) pôde ficar marcado.
Precisamos estar motivados e fazer o nosso melhor lá.
Dá para esperar também
uma nova atuação de gala do César?
(Risos) Vou procurar fazer meu melhor. Preciso
estar com os pés no chão. Não só
eu, mas todo o grupo, cada jogador dentro de campo fazendo
a sua parte. Estava conversando com o Lucas (Mugni) e
o Erazo sobre isso. Quando entendemos isso, não
ficamos só no conceito, conseguimos alcançar
os objetivos. Todo o grupo precisa de mim, e eu, de todo
o grupo. Cada peça tem sua parte. Se fizermos um
grande jogo, as atuações individuais aparecem.
A camisa da estreia virou quadro.
E a desse jogo de domingo, tem planos para ela?
Desse jogo eu não sei, mas independentemente
do que acontecer, vai ficar marcado também. Mas
a estreia, do jeito eu foi, vai sempre ser mais lembrada.
Você disse que estava conversando
com o Mugni e o Erazo. É com quem você é
mais próximo no elenco?
Não, minha relação
é boa com todo mundo. De quem eu puder me aproximar,
eu vou. Às vezes não sabemos o que acontece
fora de campo, e os jogadores também passam por
problemas. Todo mundo tem seus momentos difíceis,
se eu puder estar do lado e dar uma palavra de força,
quero sempre fazer isso. Em determinados momentos sou
o irmão mais novo, mas às vezes faço
papel de irmão mais velho (risos). Gosto muito
de estar próximo de todos, em especial daqueles
que jogaram comigo nos juniores. Claro que, num grupo
grande, é difícil manter amizade fora de
campo. O Nixon é um irmão para mim, é
um amigo particular, sempre andamos juntos.
Após sua estreia, as pessoas
passaram a te conhecer. Hoje, mesmo depois de tanto tempo
sem jogar, ainda te reconhecem na rua?
A época da Copa São Paulo
também ficou marcada. Depois que aconteceu a estreia
nos profissionais, passaram a associar, a lembrar de mim.
De vez em quando ainda aparece um (que reconhece). Isso
é legal, é marcante. Existem torcedores
apaixonados que acompanham tudo.
Você subiu para os profissionais
em 2011 como terceiro goleiro e agora já é
o segundo. O Paulo Victor, por exemplo, ficou muito mais
tempo na fila para virar a segunda opção.
Acha que as coisas estão acontecendo rápido
para você?
É preciso ter paciência. Na
época do PV, demorou um pouquinho mais para ele.
Comigo foi um pouco diferente, mas tudo é um tempo
longo. A história dele não vai ser necessariamente
igual a minha.
Como é sua relação
com o Paulo Victor?
Muito boa. Vejo o quanto é esforçado,
pelo carisma, quantas pessoas dentro do clube gostam dele.
Tenho um carinho grande por ele, e é sempre bom
estar perto. É uma referência mesmo, aprendo
muito com ele. Um cara simples e trabalhador que conseguiu
chegar ao objetivo dele por ser determinado.
E com o Felipe?
Da mesma maneira. Tem um tempo que não
está treinando com a gente, mas durante o período
que esteve sempre tive um respeito muito grande por ele.
Quando subi (para os profissionais), ele estava lá,
me dava força, dicas. Torço muito por ele.
A afinidade não é tão grande como
a que tenho o PV, que é um cara ao qual me aproximei
mais. Mas aprendi muito com o Felipe. Ele tem uma carreira
vitoriosa e vai ser reerguer, atuar em alto nível
de novo.
Voltando ao Paulo Victor, vocês
dois fizeram duas defesaças evitando gols quase
em cima da linha: a sua contra o Cruzeiro, e a dele diante
do Atlético-MG. Qual foi a mais difícil?
Aí é complicado de falar (risos).
As duas foram importantes, com a dificuldade de cada uma.
Eu estava voltando, e ele bateu rápido. Estiquei-me
todo para tocar na bola, ela ainda bateu na trave e sobrou
para o Julio Baptista. Ele cruzou, e a bola ainda raspou
no meu pé. Foi um um lance rápido. A do
PV, no banco eu me impressionei. Foi uma defesa absurda,
a bola já tinha passado e prendeu na mão
dele. Falei: "Caramba". As duas foram muito
boas, não tem como falar qual foi a melhor. Ambas
vão ficar na minha memória.
O Luxemburgo foi quem te promoveu
aos profissionais em 2011. Pessoalmente, como tem sido
voltar a trabalhar com ele?
É muito bom trabalhar com quem é
multicampeão. Ter a confiança de ouvir um
cara que só quer o bem para mim. Ele dá
umas broncas (veja algumas no vídeo abaixo), mas
as broncas dele são para crescermos. Por mais difícil
que seja às vezes tomar bronca, eu entendo que
posso aprender com aquilo. Tive a oportunidade de conversar
com ele uma vez e entender os conceitos que passa. É
um treinador que quer extrair o máximo de cada
atleta, não só com com os titulares. (Na
sexta-feira) ele deu uma bronca em mim, em outros... Você
vê a preocupação dele com todo o elenco.
Quer o tempo inteiro fazer de nós um grupo vencedor.
É verdade que está
torcendo para a pré-temporada do Flamengo ser na
Turquia?
Na verdade, para mim não tem diferença.
Atibaia é muito bom, já fui para lá.
Manaus é legal, e o Flamengo tem uma imensa torcida
lá. A Turquia seria maneiro porque é um
lugar diferente e para onde nunca fui. Seria um motivo
de ficar mais motivado, tira o peso de estar no CT. Um
lugar fora do país, bonito, para nós é
motivante. Gostaria muito de ir para lá.
Você já conhece a Europa?
Só a Espanha, onde estive com a Seleção
sub-20. Foi muito bom.
A partir de segunda-feira começam
as férias. Quais são seus planos para os
30 dias de folga?
Vou viajar com minha esposa para Punta Cana
(República Dominicana). É um lugar que tem
cara de férias, de botar a perninha para o ar.
Depois vou passar um tempo com os amigos, família,
tem o Natal... É descansar e já pensar em
2015.