Os últimos dias de Felipe Ximenes
deram a certeza ao então diretor de futebol que
sua saída era questão de tempo. Desde o
anúncio feito por Rodrigo Caetano sobre o seu desligamento
do Vasco, a situação mudou da segurança
para a dúvida. O respaldo da diretoria já
não aparecia com frequência diante da pressão
externa, e o técnico Vanderlei Luxemburgo começava
a demonstrar sua força ao confirmar a contratação
de Thalllyson, ex-Asa, mesmo sem o jogador ter assinado
contrato e encaminhar o empréstimo de Artur Maia,
ex-América-RN.
Diante desse cenário, a ligação
do CEO Fred Luz e do vice-presidente de futebol, Alexandre
Wrobel, na manhã de quarta-feira, apenas encerraram
as dúvidas de Ximenes. Luxemburgo havia se tornado
o homem forte do futebol do Flamengo para planejar a próxima
temporada, mesmo com a provável contratação
de Rodrigo Caetano.
Ximenes foi contratado em maio e seu primeiro
ato acabou vindo a público diante da falta de estrutura
do Parque do Sabiá, em Uberlândia. Depois
de uma derrota por 3 a 0 para o Cruzeiro, ele deu uma
bronca no vestiário que vazou na internet. Colocou
os jogadores contra a parede e garantiu ter carta branca
da diretoria para tomar decisões.
Aquele foi o último jogo antes da
paralisação para a Copa do Mundo. O Flamengo
teve um longo tempo para se preparar, e a demora em tomar
decisões nesse período pesou contra Ximenes.
Apenas com a volta do Campeonato Brasileiro e dois jogos
depois, ele tomou a decisão de demitir Ney Franco
e afastar jogadores, como André Santos e Elano.
A seu favor, o tiro certo nas contratações
de Canteros e Eduardo da Silva, que se mostraram fundamentais
na salvação do time do rebaixamento.
A contratação de Luxemburgo
aconteceu com a presença de Ximenes na casa de
Luiz Eduardo Baptista, o Bap, vice de marketing, em São
Paulo. Na época, ele fazia parte da cúpula
do futebol e defendia o trabalho do então diretor,
que havia contratado pessoalmente, ainda que Rodrigo Caetano
tenha sido o primeiro alvo.
Desde então, apesar de serem vistos
em conversas frequentes na concentração,
havia o relato de um relacionamento frio entre Luxemburgo
e Ximenes. Além disso, alguns jogadores jamais
engoliram a bronca no vestiário, que acabou sendo
ouvida pelos jornalistas presentes no estádio.
Nesse período, o episódio
da venda de Hernane ainda pesou. O jogador foi negociado
com o Al Nassr, da Arábia Saudita. O Flamengo não
recebeu os R$ 7 milhões a que teria direito e o
caso acabou parando na Fifa. Acusado de liberar o jogador
sem garantias, Ximenes viu o caso cair sobre os seus ombros,
apesar do respaldo jurídico e executivo do clube
na negociação.
No fim de agosto, a mudança no departamento
de futebol pesou contra Ximenes. Wrobel assumiu a pasta,
e Bap deixou o comitê, formado por seis membros.
O vice de marketing tinha outras preocupações
internas, principalmente políticas, com votações
em curso nos poderes do clube.
Wrobel iniciou o planejamento ao lado de
Ximenes para 2015. Chegou a viajar com o então
diretor para a Argentina, onde estreitou as relações
com Emmanuel Más, do San Lorenzo, Diego González,
do Lanús, e Lucas Pratto, do Velez. Sempre afirmou
que ele fazia parte do trabalho para a próxima
temporada.
Os resultados deram força a Luxemburgo,
que usou sua relação com a torcida para
ganhar espaço. Repetiu exaustivamente que a diretoria
precisava se posicionar sobre a situação
de seu contrato logo depois de conseguir se livrar do
rebaixamento. Mais uma batalha vencida quando foi anunciada
a sua permanência para 2015 de forma oficial.
Agora, com a saída de Ximenes, Luxemburgo
se transformou no homem forte do futebol do Flamengo.
Desde a determinação da pré-temporada
até os nomes para reforçar o elenco, o treinador
é a bola da vez.