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Adriano revela conversa com o Flamengo

Adriano está muito perto de tentar, mais uma vez, recomeçar a carreira. Desta vez na Europa, no norte da França, em um clube da Segunda Divisão - o Le Havre -, com um contrato de seis meses e um salário entre R$ 90 mil e R$ 150 mil por mês. Sem brilhar desde a conquista do Campeonato Brasileiro pelo Flamengo em 2009, incluindo passagens decepcionantes por Roma, Corinthians e Atlético-PR, o atacante admite que não está em condições de fazer exigências. Ele diz que chegou a conversar com o presidente do clube carioca, Eduardo Bandeira de Mello, recentemente sobre um possível retorno, mas que não chegou a um acordo e agora sonha com uma despedida vestindo a camisa rubro-negra. Agora, só quer voltar a jogar. E, para isso, deixou de lado exigências dos tempos que o apelido Imperador gerava a cobiça dos maiores times do mundo:

- Eu aceitei vir aqui, conhecer a cidade, o time e não pedi nada demais. Fiz muitas coisas no passado, que não vêm ao caso falar sobre isso agora, e não tenho como pedir muita coisa não. A única coisa que estou pedindo é o carinho do clube, que para mim é mais importante do que o dinheiro, do que qualquer outra coisa – disse o Imperador em entrevista ao GloboEsporte.com no hotel onde ficou hospedado no último fim de semana em Le Havre, no Alto da Normandia.

Além de conhecer o clube que deverá defender a partir de janeiro, Adriano ainda passeou por Deauville no domingo. Uma cidade de praia, frequentada pela elite francesa, com exposições de carros de luxo, casinos, lojas de grife e belos restaurantes como principais atrativos. O futuro presidente do Le Havre, Christophe Maillol, quis mostrar a cidade ao jogador e o brasileiro gostou. Apesar do frio e da distância do Rio de Janeiro, o Imperador disse se sentir bem na França e se mostrou cada vez mais íntimo do dirigente que fala fluentemente português e também é torcedor do Flamengo.

Depois do passeio, Adriano aceitou conversar com o GloboEsporte.com sobre esta nova oportunidade para recomeçar a carreira. O atacante abordou aspectos menos cômodos do passado, admitiu erros, negou ser alcoólatra e afirmou que precisa perder peso, mas recusou mais do que uma vez fazer qualquer tipo de promessas neste quase certo regresso aos gramados.

- Com certeza vai haver cobrança, mas não vou prometer aqui nada, porque às vezes acontecem coisas que não dão para você explicar. Quero ter uma responsabilidade maior do que eu que tive nos últimos anos, claro que sim, mas vamos ver. Eu não estou aqui para calar a boca de ninguém.

Dos vários erros que admitiu ter cometido no passado, ainda sublinhou um que acredita ter mudado o rumo da sua carreira de forma negativa: a saída do Flamengo para o Roma em 2010. E revelou uma conversa recente com o presidente Eduardo Bandeira de Mello.

- Foi uma escolha menos acertada ir para o Roma. Eu acho que deveria ter continuado no Flamengo. Eu decidi regressar à Itália pela maneira que eu tinha saído do Inter de Milão. Não era para eu ter saído do Brasil, era para eu ter ficado, porque de repente teria tido um caminho diferente. Conversei com o presidente recentemente, enfim... Foram faladas uma série de coisas que não eram cômodas nem para mim nem para o Flamengo e não chegamos a um denominador comum.

Nesta segunda-feira, Adriano viajou com o empresário Luca e Christophe Maillol para Paris. Os três vão passear pela capital francesa, encontrar alguns brasileiros do Paris Saint-Germain e participar de um programa do canal esportivo Beinsport. O acordo de seis meses entre o Imperador e o Le Have deverá ser anunciado nos próximos dias, mas o contrato oficial só poderá ser assinado em janeiro, na reabertura da janela de transferências e, sobretudo, após Maillol ter tomado posse do clube.

Confira a entrevista completa de Adriano ao GloboEsporte.com:

GLOBOESPORTE.COM: Podemos dizer que o Le Havre já é o seu atual clube?

ADRIANO: Estamos definindo as últimas coisas. Conversei com o meu empresário (Luca), que é meu grande amigo acima de tudo, uma pessoa que vem me ajudando bastante nos últimos anos. Ele conversou com o presidente (NR: futuro presidente Christophe Maillol) e a gente ainda vai ter uma conversa para chegar ao acordo final. Mas acho que está bem encaminhado, o presidente é uma pessoa maravilhosa, uma pessoa boa, está tudo certo. Falta pouco e acho que o meu “sim” deve vir antes de eu regressar ao Brasil, porque gostei muito da proposta, do projeto. Está bem próximo, falta pouco.

Quais são as suas condições e exigências para jogar aqui?

Acho que a minha prioridade é voltar a jogar, não tem muito que pedir. Hoje eu tenho de dar prioridade a voltar a jogar, voltar a mostrar o bom futebol e por isso venho dizendo que fora do Brasil você tem mais tranquilidade para trabalhar, focar no trabalho. Eu aceitei vir aqui, conhecer a cidade, o time, não pedi nada demais, porque também fiz muitas coisas no passado, que não vêm ao caso dizer agora, e não tenho como pedir muita coisa não. A única coisa que estou pedindo é o carinho do clube, que para mim é mais importante do que o dinheiro, do que qualquer outra coisa.

Adriano, qual é o seu objetivo agora em regressar à Europa. Qual é o caminho que você quer seguir?

Se eu assinar pelo time, eu vou voltar ao Brasil, ficar uma ou duas semanas para depois voltar para cá o mais rápido possível, para que eu possa estar em janeiro já no nível dos jogadores e tentar jogar. O objetivo é esse, chegar e treinar o mais rápido possível para ajudar o time a subir à Primeira Divisão.

Você ainda pensa representar um grande da Europa?

O objetivo é chegar a um grande time de novo, é isso. Mas a caminhada ainda está começando, tenho de trabalhar bastante para que eu possa, no futuro, ir para um grande clube ou ficar mesmo por aqui. Eu não me importo com isso. Se eu estiver bem num lugar, eu fico. O importante é a felicidade, que sempre importou e importa muito para mim. Eu sei que tenho de batalhar bastante, já tem três meses e meio que eu saí do Atlético-PR. Não é que eu esteja parado como estava antes, mas não estou treinando.

Você está preocupado com a sua forma física?

Agora eu não estou tão preocupado como antes de ir para o Atlético-PR. Porque realmente naquela época eu estava parado há quase dois anos e tinha de ter um pouco mais de paciência, mas hoje estou mais tranquilo, porque tenho feito várias coisas no Brasil.

O seu peso é sempre motivo de dúvidas e preocupações. Como é que está o seu peso agora?

Sempre tenho que perder. Quando eu saí do Atlético-PR, eu estava bem fisicamente. Mas o pessoal tem de entender que manter peso não é só ir para a academia. Treinando em um clube, com uma equipe, é completamente diferente. Todo o mundo pega nesse calo. Eu fiquei alguns meses parado e é claro que não estou no meu peso ideal. Mas eu estou me sentindo muito bem, não estou pesado como estava antes, há cerca de dois anos. Agora, eu engordei uns quatro quilos, mas vou perder isso fácil com treinamento, não vai me impedir de nada.

A sua imagem ficou muito desgastada nesses últimos anos da sua carreira no Brasil?

Olha, eu não tenho que prometer nada para ninguém. Dentro de campo todo o mundo sabe o que eu posso fazer. Fora de campo, eu cometi alguns erros, mas não esquento para o que os outros falam. Estou aqui. E agora daqui para a frente vai ser a minha vida. Espero poder fazer o melhor, não importa o passado. Se eu tive erros, todo o mundo já teve e eu tenho de aprender para não fazer mais. É dessa forma que eu estou pensando e espero que o pessoal pense dessa forma também. Nunca neguei nada para ninguém, sempre tive coragem de dizer tudo o que já fiz na minha vida, nunca menti, por isso estou tranquilo para seguir em frente.

Nesses dias, você disse à imprensa francesa que a sua imagem está manchada? Tem necessidade de limpar?

Como jogador de futebol, dentro de campo, não. Mas, como disse, passei por dificuldade nos últimos anos, por uma série de coisas que me fez exagerar em alguns momentos e, por isso, é óbvio que todo o mundo vai cobrar de mim e sou cobrado até hoje. Entendo, sou homem para dizer que errei, mas quem nunca errou? Bate no peito quem nunca errou! Passei algumas dificuldades, não consegui me conter em alguns momentos, mas isso não me atrapalha em nada, eu nunca vou guardar uma coisa para dentro de mim, isso faz mal, eu nunca menti, não vou mentir, tenho a minha família que me dá suporte, os meus amigos, jogadores em todos os clubes por onde passei que sabem a pessoa que eu sou. Isso não vai-me incomodar, tenho minha educação, o que importa é ser o Adriano que eu sou.

Mas você sente necessidade de demonstrar que é uma pessoa capaz de ser profissional?

É difícil de falar. Com certeza vai haver cobrança, mas não vou prometer aqui nada, porque às vezes acontecem coisas que não dão para você explicar, quero ter uma responsabilidade maior do que eu que tive nos últimos anos claro que sim, mas vamos ver. Eu não estou aqui para calar a boca de ninguém. Eu estou aqui para demonstrar para a minha família, para mim mesmo, para as pessoas que eu gosto que eu sou capaz. E para os meus fãs, lógico, as pessoas que gostam de mim, a essas sim eu tenho de dar satisfação e por elas dar a volta por cima. O resto que fala mal e com inveja, não me importa.

Além dos seus erros e comportamentos menos profissionais, você sofreu muitas lesões desde 2009. O que é que mais condicionou a sua carreira?

Depois de 2009, quando fui campeão pelo Flamengo, decidi regressar à Itália e no Roma eu tive uma série de lesões, não pude jogar direito, até que pedi ao clube para me liberar. Eu não saí da mesma forma que saí do Internazionale, o pessoal pensa isso, mas não foi assim. Eu dei entrevista, expliquei tudo, fui falar com a presidente da época e ela aceitou me liberar. Eu disse que não dava mais para eu ficar na Itália, porque eu estava me lesionando muito e não estava me sentindo bem. Voltando ao Brasil, fui para o Corinthians como todo o mundo sabe e logo no primeiro treinamento eu rompi o tendão. Ninguém leva isso em conta. Mas são coisas da vida que mudam tudo: fiquei muito triste, abalado, depois que saí do Roma, já depois de ser operado no ombro, cheguei ainda com o ombro não a 100% e ainda operei o tendão. Eu confesso que tive uma recaída de tristeza, porque é difícil você saber o jogador que você é, e não poder jogar, nem treinar com o grupo, não poder fazer o que você mais quer. O pessoal, às vezes, não entende isso.

As lesões condicionaram, mas você não seguiu o programa de recuperação totalmente.

É óbvio que todo o mundo sabe, eu não menti, faltei a algumas sessões de fisioterapia que eram obrigatórias, mas eu fiquei muito triste mesmo. Foi um momento que pensei até em parar de jogar, a minha mãe até falou para mim: “Adriano, se você quiser parar, você nem precisa mais jogar porque sua vida está resolvida.” São coisas que ninguém sabe, só fala do outro lado, mas além de ser um jogador de futebol, sou um ser humano. Da mesma forma que a pessoa fica triste, o jogador também fica.

Podemos dizer então que o grande erro foi você ter voltado para a Itália?

Erro não, foi uma escolha menos acertada ir para o Roma. Eu acho que deveria ter continuado no Flamengo. Eu decidi voltar à Itália pela maneira que eu tinha saído do Inter de Milão. Eu achei que deveria dar uma explicação a todos lá depois de tudo o que aconteceu. Não queria ter saído assim como saí. Mas não tem como voltar atrás, não vou falar que o Roma foi o clube errado, mas não era o momento. Não era para eu ter saído do Brasil, era para eu ter ficado, porque de repente teria tido um caminho diferente.

É verdade que o Flamengo lhe fez uma nova proposta recentemente?

Conversei com o presidente, enfim, foram faladas uma série de coisas que não eram cômodas nem para mim nem para o Flamengo e não chegamos a um denominador comum. Mas eu amo os rubro-negros, eu amo o Flamengo de coração, todo o mundo sabe disso. Com certeza, eles podem esperar me ver lá um dia. Com certeza, se um dia eu resolver encerrar a minha carreira, eu quero encerar com a torcida do Flamengo, por quem eu tenho um grande carinho e respeito e eles têm também por mim. Infelizmente não deu certo no passado, mas a gente nunca sabe o futuro.

Vou fazer uma pergunta incômoda que não posso deixar de perguntar, mas a bebida ainda é um problema para você?

Gente, eu sempre falo isso, só porque eu passei por um momento da minha vida difícil, eu realmente tive esse problema, hoje o pessoal continua batendo na mesma tecla. Se eu fosse alcoólatra, nenhum time ia ter coragem de me pegar e eu não estaria aqui agora.

Você acha que faltou também uma estabilidade emocional e sentimental maior na sua vida?

Acho que sim, na minha vida inteira é o que faltou também. Houve uma parte da minha vida em que eu estive com a mãe de dois dos meus filhos, a Daniele, depois com a Joana, a Renata e antes da Renata, eu estive com a Bruna, mas foi rápido, não foi uma coisa para ficar. Aconteceu o que tinha de acontecer, de repente se eu tivesse tido uma pessoa estável… Não estou falando que elas não foram pessoas legais, que não me deram suporte, mas não deu certo. Agora eu tenho um carinho enorme por todas elas, agradeço por tudo o que fizeram por mim, a gente tem carinho um pelo outro. Não estou namorando, mas sei que a pessoa certa vai surgir.

Você vai trazer os seus amigos para viver com você na França?

Sinceramente não sei como vai ser. Mas se eu vier, alguém da minha família e meus amigos vão vir também. Não vou ficar aqui sozinho também.


Fonte: Globo Esporte


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