Lembranças do passado costumam ser
saudáveis para alimentar esperanças, gerar
novas expectativas e mostrar que os obstáculos
criados podem e devem ser ultrapassados. Com esse pensamento,
a busca por relíquias de um tempo que não
volta mais acontece, seja com qualquer artefato capaz
de ser colecionado. O preparador físico Antonio
Mello fez isso em 2008, quando decidiu comprar um Fusca
1981 para resgatar um pouco de sua história profissional.
Como a vida de um profissional do futebol,
o Fusca está sempre em manutenção.
Ele foi comprado por Mello de uma senhora em São
José do Rio Preto por indicação do
ex-árbitro Oscar Roberto de Godoy. Na época,
fechou o negócio por telefone, fez o depósito
de R$ 5.500 e mandou que o carro fosse levado a uma oficina
em São Paulo para ser restaurado.
O processo é quase o mesmo pelo qual
passou o Flamengo nas mãos de Vanderlei Luxemburgo,
com quem Mello trabalha. O treinador chegou ao clube em
julho, com o time na lanterna do Campeonato Brasileiro.
Três meses depois, a zona do rebaixamento já
está mais distante e a disputa agora é por
uma vaga na final da Copa do Brasil.
- O Fusca é guerreiro, igual o meu
time. Não falha. São 90 minutos firmes.
Não deixa na mão de jeito algum. É
muito igual ao Flamengo atual - brincou Mello, que costuma
ir a alguns treinamentos com o carro.
Para reformar o Fusca, o preparador físico
investiu R$ 14 mil. Trocou os bancos, pintou de amarelo
- "era branco e estava queimado" - e trocou
a ignição. Já recebeu uma proposta
de R$ 25 mil de um colecionador, mas não aceitou.
Com o Flamengo, a dedicação foi no campo
para transformar o time em uma máquina de marcar.
Com o carro, o sentimentalismo pesou, da mesma forma que
Luxemburgo cansou de declarar o seu clube de coração.
- Não há um amor por carros
antigos. Quis resgatar a minha história profissional.
Em 1974, comprei meu primeiro carro. Era um Fusca 1966,
que fez parte da minha vida, do namoro com minha esposa,
uma demonstração de que estava conquistando
coisas. Foi o primeiro bem que pude comprar, o significado
da realização como profissional. A maneira
que encontrei para fazer isso foi comprar esse Fusca -
comentou.
Com mais de 70% de originalidade no carro
e acima dos 30 anos de uso, Mello trabalha agora para
conseguir a placa preta, que é o certificado do
veículo antigo. O mesmo se apresenta para o Flamengo
atual, onde a torcida valoriza a dedicação
autêntica do jogador rubro-negro, característica
resgatada depois da chegada de Luxemburgo e de seu preparador
físico.
- Ele (o Fusca) é bem original. Só
melhorei o banco por causa da coluna, tem rádio,
duas velocidades no limpador de para-brisa e anda bem.
Vai a 120km/h. Está todo direitinho. Não
tem nada a reclamar - disse Mello.