Vanderlei Luxemburgo não deixou
a zona da confusão de lado, mas não dá
mais para convencer o torcedor do Flamengo de que a manutenção
na Série A é a grande meta para temporada.
O mantra repetido pelo treinador desde sua chegada ao
clube não cola mais. E mais de 40 mil rubro-negros
fizeram questão de dar esse recado em alto e bom
som na vitória por 1 a 0 sobre o América-RN,
quarta-feira, no Maracanã. Na partida em que ultrapassaram
a marca de 32 mil pagantes pela nona vez em dez compromissos
depois da Copa do Mundo, os torcedores deixaram claro
que evitar o rebaixamento no Brasileirão não
é mais o suficiente e avisaram: "Libertadores,
qualquer dia tamo aí!".
Com a lembrança de 2013 ainda fresca
na memória, os flamenguistas já não
conseguem segurar a empolgação a quatro
passos do possível bi consecutivo da Copa do Brasil
(quarto título na história). Diante do América-RN,
o clima de festa tomou conta do Maracanã antes
mesmo do início da partida. Os 42.406 presentes
(32.760 pagantes) cantaram um vasto repertório
de canções durante os 90 minutos. Se foram
premiados com apenas um gol, não se privaram de
celebrar nas mais variadas situações. Defesas
de Paulo Victor, desarmes de Cáceres, dribles de
Everton e até mesmo a expulsão de Marcelo
fizeram os rubro-negros extravasarem a alegria.
Não era nem necessária a
informação de 27 mil ingressos vendidos
antecipadamente para ter a certeza de que a partida teria
grande público. Desde o início da noite,
a movimentação nos arredores do Maracanã
já era grande, assim como o clima de otimismo dos
rubro-negros. Logo que os portões foram abertos,
às 20h, quem decidiu entrar no estádio pôde
acompanhar nos telões a partida do time de basquete
contra o Orlando Magic e teve início a cantoria,
que foi quase ininterrupta no setor onde ficam as torcidas
organizadas.
No anúncio das escalações
no telão, um dos poucos momentos onde a torcida
demonstrou insatisfação. Enquanto Eduardo
da Silva, Léo Moura e até o novato Marcelo
foram festejados, João Paulo recebeu vaias, que
se repetiram em alguns momentos com bola rolando. Os protestos,
no entanto, foram quase imperceptíveis diante do
apoio das arquibancadas desde o apito inicial. Quando
a bola estava nos pés do América-RN, ouviam-se
vaias. Quando o Fla recuperava, incentivo.
A empolgação, por sua vez,
foi diminuindo a medida que a equipe não dava a
resposta em campo. Em vantagem e com um adversário
desmantelado por desfalques, o Flamengo jogava sem pressa,
trocava passes no campo ofensivo e deixava a partida monótona.
Dizer que o Maracanã ficou em silêncio seria
exagero, mas poucos foram os que se mantiveram animados
durante todos os 45 minutos iniciais. Na saída
para o intervalo, gritos de "Queremos raça".
No segundo tempo, o Flamengo ganhou fôlego
com a entrada de Gabriel, e a torcida foi no mesmo ritmo.
Em muitos decibéis, puxou o time para o ataque
e emendou sem parar a versão do hit da Argentina
na Copa, "Decime que se siente". Na letra rubro-negra,
os torcedores prometem apoiar a equipe até o final
mesmo nos piores momentos. Mas a quarta-feira era de bons
momentos, principalmente após o gol de Gabriel,
aos 18 minutos. A partir daí, quase tudo que acontecia
em campo era retribuído com aplausos. Até
Marcelo, que foi expulso por receber o segundo cartão
amarelo, deixou o gramado ovacionado.
Por mais que o América-RN assustasse
em bons contragolpes, a torcida do Flamengo não
parava de cantar. O repertório tinha profecia de
título, samba-enredo da Estácio de Sá
em homenagem ao centenário do clube e reverência
a si próprio: "Que torcida é essa!?".
Com a vaga praticamente garantida, o time de Vanderlei
Luxemburgo atacava pouco, e os momentos de vibração
passaram a ser defensivos. Paulo Victor, com três
grandes defesas no fim, foi quem mais levantou a galera:
- Tenho que parabenizar. A torcida sabe
a importância que têm. Quando estão
do nosso lado, fazem a diferença. E já convoco
para seguirem com a gente até o final. Vamos precisar
da força deles - disse o goleiro.
Com camisas girando no ar, os rubro-negros
acompanharam os minutos finais da partida cantando que
era "festa na favela", até o que o filme
de 2013 passou pela cabeça. Assim como na temporada
passada, o Flamengo que sofre no Brasileirão dá
a volta por cima na Copa do Brasil, e o que era um sonho
distante após a derrota por 3 a 0 para o Coritiba,
no jogo de idas das oitavas de final, voltou a ser obsessão.
Uníssono, o Maracanã gritou: "Ihhhh,
Libertadores, qualquer dia tamo aí".
Para disputar novamente a competição
continental, o Flamengo terá pela frente o Atlético-MG,
na semifinal. Na próxima sexta-feira, será
decidida a ordem dos confrontos em sorteio na CBF. A julgar
pela empolgação e até pelo histórico
recente, uma coisa já está definida: o jogo
do Maracanã terá casa cheia.