Rugas e cabelos brancos não foram
os únicos sinais de mudança em Vanderlei
Luxemburgo. O técnico completará seu jogo
de número 200 no comando do Flamengo — amanhã,
contra o Santos, no Maracanã, pelo Brasileiro —
mais experiente e, principalmente, mais calmo.
— Ele dava muito esporro. Só
não dava no Júnior Capacete — lembra
Júnior Baiano, que era reserva em 1991, na primeira
passagem de Luxemburgo pelo Rubro-negro.
A primeira fase do treinador no Flamengo
revela muito sobre sua personalidade. Disciplinador, ele
puxava a orelha dos jogadores, tirava-os das partidas
sem cerimônia e fazia forte fiscalização
para pegar quem fugia da concentração.
— No começo, houve certo atrito
com os jogadores, mas depois de um tempo eles viram que
as broncas eram corretas e o relacionamento ficou bom
— revela Bebeto de Oliveira, preparador físico
de Luxemburgo na época.
Não à toa, tamanha disposição
para impor regras, lhe colocou em conflitos — seja
com quantos anos for — com craques como Romário
e Ronaldinho Gaúcho. E até caiu em desgraça
ao criticar a falta de bolas para treinar na Gávea.
— Lembro que ele reclamava muito que
no Flamengo faltava bola. Ele sempre gostou de boa estrutura,
coisa nova, e a gente treinava com umas bolas já
usadas — recorda Júnior Baiano.
Seu primeiro jogo oficial foi uma derrota
para o Corinthians, pela Supercopa do Brasil (duelo dos
campeões brasileiro e da Copa do Brasil). Antes,
o time já havia goleado a seleção
de Barra do Piraí por 5 a 0, num amistoso da pré-temporada
em Vassouras.
Depois de 199 jogos (98 vitórias,
59 empates e 42 derrotas), duas Taças Guanabara,
uma Taça Rio e um Estadual, o técnico não
ficou mais benevolente. Mas descobriu formas menos desgastantes
de manter a disciplina.
— Lembro uma vez em que eu e Marcelinho
nos desentendemos e ele tirou os dois, só depois
foi procurar saber o que tinha acontecido — conta
Zinho, que participou do primeiro projeto de Luxemburgo
no Rubro-negro e ainda foi treinado por ele no Palmeiras
e no Cruzeiro:
— Desde jovem ele sempre teve atitude.
Acho que ganhou experiência e ficou mais paciente.
Mas não mudou na forma como consegue unir o grupo.