Vanderlei Luxemburgo rejeita rótulos
e elogios de que mudou, melhorou, de que está apenas
de olho no campo e bola. Ledo engano. O técnico
do Flamengo frisa: aos 62 anos, está a mesmíssima
coisa. Em pouco mais de uma hora de conversa – sendo
14 minutos de papo informal e 48 de entrevista –,
o velho Luxa mostrou-se na sua essência: discorreu
sobre tudo que o futebol envolve – jogos, arbitragem,
racismo, clubes, estrutura. Falou palavrões pontuais,
gargalhou, gesticulou. Questionado sobre ter um cara como
Romário no seu time, não titubeou: "Queria
dez".
Depois de oito meses longe da beira do campo,
Luxemburgo voltou. E para o Flamengo. Aceitou o desafio
de tirar um time limitado do rebaixamento, mesmo que seu
contrato não tenha sido assinado até hoje.
O treinador não coloca isso como problema. Os problemas
mesmo estão numa caixinha virtual criada por ele
mesmo.
– Tudo o que acho coloco dentro dela,
pois não é momento de eu discutir o que
acho. No momento certo, abro a caixinha e digo: "Não
pode ser assim, assim..." Discutir agora é
ruim. Vou contribuir com o que tenho, com a minha experiência.
Mas discutir agora se fez time certo, errado ou se deveria
ter feito assim não leva a nada no momento, só
traz problema. Mas a caixinha está grande para
caramba (risos).
Luxa tem propriedade para analisar a nova
gestão do Flamengo. E tem mágoa por não
ter comandado a seleção brasileira na Copa
do Mundo de 2002, na Coreia do Sul e no Japão.
Ao recordar sua saída, cita o cenário de
CPI do futebol e dos questionamentos que recebeu por conta
de dribles na Receita Federal e questões bancárias.
– Continuo falando: se aparecer algum
cheque meu, alguma coisa... Mas nada. A única coisa
que eu tinha era a Receita Federal. Fiz o Refis, como
qualquer cidadão físico ou jurídico.
Falar em "projeto", marca registrada
de Vanderlei, parece fora de moda. Ele lançou agora
o "ficar longe da confusão", que virou
bordão rubro-negro. Essa parece ser a principal
meta: não só tirar o time, mas ele mesmo
se manter afastado do redemoinho de problemas que marcaram
sua carreira. Mas nem sempre a caixinha do velho Luxa
é feita só de problemas ou de surpresas.
– Com decisão pronta ninguém
vem para mim... – rebate, ao ser questionado sobre
um ponto do relacionamento dentro do departamento de futebol
do Rubro-Negro.
Confira a íntegra da entrevista de
Vanderlei Luxemburgo
Em tom de conversa, Luxa abordava um dos
temas polêmicos do momento no futebol brasileiro:
o caso de racismo com o goleiro santista Aranha e torcedores
do Grêmio.
– Que tratamento de racismo é
esse?! Racismo é ser cerceado do seu direito. O
mundo quer moralizar o mundo através do futebol.
Luxemburgo Flamengo entrevista (Foto: Pedro Veríssimo)Em
foco: Luxemburgo analisa o momento da arbitragem no Brasil.
(Foto: Pedro Veríssimo)
GloboEsporte.com: O futebol está
chato?
Vanderlei Luxemburgo: Chato, chato, chato.
Estão tirando proveito do futebol. A imprensa que
fala disso (racismo) durante uma semana, um mês.
Tira proveito o Tribunal, tira o outro, tira o promotor,
todo mundo tira proveito de um assunto que nada tem a
ver com racismo na sua essência. Agora mesmo, a
Rede Globo está passando uma série das negas
(a série de Miguel Falabella "Sexo e as Negas"
foi acusada de racismo por grupos ligados a mulheres negras).
Pô, olha só?! Nada a ver com racismo. Essa
discussão que está acontecendo no futebol
toma corpo muito grande por conta da visibilidade. As
pessoas querem colocar tudo em pauta para tirar proveito.
Mas o futebol como um todo está
mais chato? Mais mecânico, com discurso padronizado,
questiona-se a provocação, a brincadeira.
Sou preparado, mas estou no mundo dos boleiros.
Então, falo muitas coisas que são do meio.
Combatem achando que estou errado em falar "rabo
no chão", "rapa bosta". Aí
o cara pergunta: "O que é rapa bosta?".
Desde o tempo em que eu jogo bola é dar um tapa
nela prensando no chão. Outra coisa: estão
falando para cacete de arbitragem. O Flamengo não
tem privilégio nenhum. Vou até colocar no
meu blog os clubes que foram beneficiados com erros de
arbitragem. Todos os clubes foram beneficiados, uns três
vezes, outros quatro, mas todos foram. Então, tem
que acabar com essa coisa como se fosse privilégio
do Flamengo.
Como você avalia a arbitragem
atualmente?
O que acontece é que a arbitragem
foi ficando fora do futebol. Não é questão
de amadorismo, não. É assim: o árbitro
não pode ter uma relação com o jogador,
com técnico, não pode dar entrevista, não
pode isso, não pode aquilo. E eles mesmos criaram
uma desconfiança na arbitragem. Quando você
proíbe um juiz de São Paulo de apitar um
jogo que envolva um time de São Paulo e um do Rio
de Janeiro, você criou uma desconfiança.
E agora é vídeo disso, daquilo, quantas
faltas o cara faz. Hoje, o árbitro entra em campo
como se fosse um robô, com uma série de informações,
e se esquece de olhar o jogo de futebol, de interpretar
na sua essência. Para mim, esse é o grande
problema. É como antigamente: tem juiz ruim, tem
juiz bom. Mas, com a proibição, a comissão
teve que privilegiar outros centros que não são
tão fortes como Rio, São Paulo e Minas.
De vez em quando aparecia um de Pernambuco, do Rio Grande
do Sul, mas não eram os tops, pois os tops estavam
nos grandes centros. Aí começa a apitar
clássico que você vê que não
tem condição. Tem que se preparar melhor.
Por falar em se preparar melhor,
você ficou quase um ano fora. Acha que treinador
também precisa de melhor preparo?
Não vejo isso aí, não.
Tem muito técnico brasileiro bem preparado. Eu
vejo a estrutura do futebol brasileiro muito mal feita,
esse é o problema. Isso faz você cair em
situações em que o técnico sempre
será o culpado. A estrutura é complicada.
Você fez o que durante o tempo
afastado da beira do gramado?
Esquece eu, esquece eu. Eu passei a ficar
bom, para muitas pessoas, em um mês. Tenho uma história
de mais de 30 anos no futebol, e em um mês me colocaram
como bom. Aí a coisa fica louca, cara. Você
não pode ser analisado em 30 dias como excelente,
ou um m... em 30 dias. A análise é equivocada,
existe falta de respeito com profissionais que têm
qualidade. Nego quer aposentar, quer tirar... "Está
ficando velho". Isso não tem nada a ver. Eu
viajei, mas sempre fiz isso, há anos. As coisas
que acontecem hoje no futebol eu fazia há 25 anos,
as coisas que estão acontecendo hoje, eu era vanguarda.
Eu sou vanguarda há muito tempo. O que acontece
são as condições que são dadas
pelos clubes aos seus profissionais para trabalhar. O
que a Alemanha fez de diferente que enalteceram?!
Nada?
Não fez nada diferente do Brasil
de 66, que foi campeão em 70. Teve 58, 62, 66 e
70. É cíclico, a Alemanha veio ganhar a
Copa do Mundo. Qual equipe melhor se preparou em 70? Foi
o Brasil. Trabalhei na Copa, fui comentarista na FOX.
A imprensa enalteceu um esquema falido em 90. Não
dá para entender uma coisa dessas. Como falam que
é moderno a Holanda jogar com três zagueiros
se, em 90, o Lazaroni foi sacrificado?! O treinador do
Chile virou moderno por usar esquema com três zagueiros.
Então o Lazaroni era moderno há 500 anos.
Isso que não bate na minha cabeça. Alemanha
com três jogadores que não eram marcadores
no meio-campo. O Flamengo jogava assim com Zico. São
coisas momentâneas analisadas momentaneamente no
futebol.
Tem quem faça análise
momentânea de que você mudou, está
mais no campo e bola, centrado só nisso.
Não estou centrado só no campo
e bola, não. Sou a mesmíssima coisa. Continuo
participando de reunião, ajudando, tentando mostrar
meu conhecimento para a diretoria sobre o que deve fazer,
acompanhando tudo que acontece. Focado no futebol, como
sempre estive. Viajei para Europa, estudei, mas a grande
sacada foi que fiquei oito meses sem falar de mim, então,
quando se fala, parece uma novidade. Tem que entender
que não é por aí. Eu não mudei,
trabalho da mesma forma. Não mudei meu comportamento,
de viajar (com time), concentrar antes, dar treino para
cacete que gosto de dar, de estar dentro do campo. É
o que faço. Minha imagem descansou um pouquinho,
as pessoas esqueceram um pouquinho e voltaram a ver o
Vanderlei de outra maneira. Agora, o acerto que fiz com
o Flamengo foi de que eu ia tirar o time da confusão
e tocar o futebol, ajudando da minha maneira de conhecer
o futebol. Já me chamaram para ver planejamento
para a próxima temporada. Tem que me usar para
isso aí. Pegaram no meu pé e acho bobagem.
Quando você é vanguarda, está muito
exposto a porrada. (O Brasil) é um dos únicos
lugares do mundo em que o técnico tem que ser só
técnico, em todos os outros lugares do mundo o
técnico é "head-coach". Só
no Brasil não permitem isso, ser alguma coisa a
mais. Tem colegas de profissão que dizem que não
se preocupam com outra coisa que não seja treinar
o time. Telê Santana estava errado? Ele se preocupava
com a grama do Morumbi, com a comida, com ônibus
que era ruim... Ele estava certo. Eu chego aqui e quero
saber como está o nutricionista. Isso é
ruim? Departamento médico. Isso é ser "head-coach".
Pessoal confunde com outras situações, como
se quisesse mandar no clube como um todo. Não tem
nada a ver.
E o mantra "sair da confusão",
você fez com que todos não apenas repetissem,
mas incorporassem mesmo a expressão?
Todos os clubes por onde passei consigo
fazer isso. De vez em quando, tem uns fios desencapados,
aí vai ser o grupo (risos). Tem que ter um grupo
que entenda. Quando estive com Romário aqui, não
tem como ele falar o mesmo discurso se ele tem uma cabeça
totalmente... (risos e gestos). Complicado, cara. Mas
consigo fazer com que entendam, coloquem em prática
e pratiquem para aquilo ganhar um corpo. Assim você
cria uma sintonia.
Hoje, você prefere não
ter um cara como Romário no seu time?
Não, nada a ver. Eu quero ter dez
Romários no meu time. Hoje, com 62 anos, tenho
mais experiência do que tinha há um tempo.
Decisões que tomei e hoje não tomaria, com
Romário a mesmíssima coisa. Ele mesmo já
falou que seria diferente.
Cavucar minhoca em barro duro, mastigar
água. São algumas das expressões
que já usou. De onde vem isso?
Tinha essa liderança desde que jogava.
Aqui no Flamengo mesmo, ainda novo, falavam que era negociante.
Hoje mesmo me criticavam porque tenho fazenda, tenho obra...
P..., quer que eu fique f*****? Vou empreender em quê?!
(risos). Pessoal da época do Zico já dizia
que eu era líder, inventava uma história,
dava esporro, brigava, isso já vem desde a época
do jogador. Mas tem coisas que trago do tempo do Joubert,
expressões idênticas, do boleiro. Chamo muito
de "meu filho", passa de concha, para de frescura.
Jogador tem que acreditar, entender que você sabe
de futebol. O que fiz aqui: "Rapaziada, se vocês
fossem a melhor equipe tecnicamente, estavam dentro da
competição, o Ney não tinha ido embora,
não tinha ido ninguém. Então, não
é". Temos que encontrar uma identidade nossa.
Vocês podem não ser tecnicamente os melhores,
mas podem se tornar através de outra virtude tão
bons como os outros. Cada um é bom de uma maneira.
O grupo é bom de uma maneira. Para sair da confusão,
vamos ter que redobrar a marcação, ralar
o rabo no chão, jogar como se fosse uma decisão
o tempo todo. O torcedor tem que acreditar que vocês
não têm técnica, mas que estão
lutando. Eles começaram a encaixar isso e a entender
que se fizer dessa forma, está bom.
Chegou o momento de o time olhar
para cima, para baixo ou para a Copa do Brasil?
Já discuti isso. A proposta do Flamengo
qual é? Ir para Segunda Divisão? Não.
Consegui identificar meu grupo. Por isso, criei a zona
da confusão, essa é a prioridade, sair da
confusão. Se sair daí, pronto. (Um dos telefones
de Luxa toca. "Deixa eu atender, é um cara
do Santander. Me ligaram umas dez vezes. Minha filha comprou
um carro e eu tenho que pagar", diverte-se). Identifiquei
o grupo, chamamos a torcida, houve uma sintonia, o negócio
avançou. O que acontecer daqui para frente será
dado como lucro. Se nós avançarmos na saída
da zona da confusão e da Copa do Brasil, abre um
espaço. Vai valorizar os jogadores, pois estão
conseguindo algo mais do que livrar do rebaixamento. Aí
o cara acha que Luxemburgo tem que ter o discurso de que
é algo mais? Mas meu time está preparado
para esse discurso? É uma coisa que tem que acontecer
naturalmente.
Como tem visto a maneira como a
atual gestão do Flamengo lida com futebol, já
que tem sido questionada e alvo de críticas em
alguns momentos?
Vejo assim: são extremamente sérios,
competentes em suas empresas e chegando a uma gestão
totalmente diferente de tudo que imaginaram até
hoje. Então, também estão se adaptando
a um processo novo, normal que cometam alguns equívocos.
Se quem está há tanto tempo no futebol erra,
imagina quem está chegando? Mas mostram o seguinte:
são sérios, competentes e querem fazer o
Flamengo se ajustar para que possa receber o mercado do
futebol. O Flamengo tem que ter o privilégio de
ter esse mercado a sua disposição, que é
ter uma receita muito maior, cada vez mais. Pois o Flamengo
é uma grande potência, uma marca muito forte.
Tem um custo para chegar a esse ponto, pela longevidade
que vem, combalidos há anos, como Vasco, Botafogo...
Eles têm seriedade, são corretos, mas estão
passando dificuldades por conta de problemas anteriores.
Mas eu não tenho nenhum desconforto.
Existe uma sintonia perfeita entre
Gávea e Ninho do Urubu?
Eles cumprem com as coisas. Quando falaram
que o prêmio estava atrasado, é uma verdade.
Mas colocaram sobre ambiente... Não tinha nada,
estávamos participando. Teve um problema, foi avisado
e pagaram. Eles têm crédito, desde que chegaram
tentaram colocar as coisas em ordem. Esse ano que algumas
coisas não aconteceram, deu uma desequilibrada.
Já teve início um
pensamento em 2015?
O clube tem que pensar em 2015, 2016, 2018.
Como pensar isso é que é o diferente. O
futebol do Flamengo tem que ser pensado, mas no momento
que você tenha para colocar certas coisas. Eu não
quero saber de contratação, até porque
estamos numa situação em que apostei no
grupo para tirar da confusão. Então, como
vou falar de contratação se estou com um
grupo aqui? Mas vai ter o momento que terá que
ser falada alguma coisa sobre mercado, senão fica
devendo algumas para o ano que vem. Você acha que
o clube não está se movimentando? Tem que
estar, mas são coisas que não têm
que falar. Têm que ser feitas internamente, conversando.
Jornalistas são espertos e competentes, vão
buscar notícias. Mas tem notícia que não
pode ser vazada.
Nessa de vazar ou não, tem
o caso de que você está trabalhando sem ter
assinado contrato...
Não tem dúvida. Tenho contrato
até 2015. Discutimos o contrato, durante isso surgiu
uma "interferenciazinha". Vamos nos preocupar
em tirar o Flamengo da confusão, eu confio em vocês
(diretoria), vamos tocando o barco, vamos nos preocupar
com o Flamengo, eu disse. Não tem nenhum problema,
está zerado, confio neles, tudo está sendo
cumprido, só não colocamos no papel porque
houve uma situação, mas não tem prejuízo
para nenhuma das partes.
Qual sua relação com
a imprensa ao longo de tantos anos? Tem amizades, já
caiu na porrada, uns elogiam, outros questionam?
Quando tem que ser na porrada, vai na porrada.
As pessoas têm que entender o seguinte: não
lembro de ter tido problema com repórter, porque
vocês estão todos os dias comigo, conhecem
a expressão, quando estou falando na sacanagem.
Colunista fica lá frio, no ar-condicionado, te
analisando, te colocando num pau de sebo para cima e para
baixo, querendo que as ideias dele prevaleçam sobre
as suas, aí vai para o confronto. Mas respeito
e faço o que tenho que fazer. Não deixo
de enfrentar essas situações, vou para discussão.
Mas a discussão acabou, passa um tempo, fica meio
no atrito, mas acabou.
E seus planos dentro do Flamengo?
Olhando o Flamengo de fora fiquei muito
preocupado com a maneira como estava vendo o time jogar,
muito fragilizado. Uma fragilidade que nunca tinha visto,
passivo demais. Muito sem vida. Quando o pessoal me convidou,
pensei que era uma situação boa para o Flamengo,
o meu retorno a um clube que gosto já caminhando
para uma renovação mais para frente. E já
falei que quero ser presidente do Flamengo. Mas tem que
saber se o processo político, todo o ambiente,
vai te carregar para isso. Não é uma coisa
que você escolhe. É como ser presidente da
república. Você é escolhido pelo partido
para te levar para lá. Se alguém entender
que tenho capacidade para disputar uma eleição,
aí eu vou com grupo. Zico quer ser presidente do
Flamengo? Tem que saber se tem condição,
está preparado para isso, como funciona. É
diferente de só querer. É uma coisa muito
maior.
O que mudou desde sua chegada?
As coisas estavam distantes: torcida do
time, time da diretoria. Quando se está distante,
não se chega a lugar nenhum. Vamos aproximar, conversar.
Fizemos uma unidade, nós começamos a trabalhar
no conjunto. O Flamengo é uma coisa só.
Ah, os dirigentes não vêm aqui. Mas tem que
chegar aqui a decisão. Não é "manda
falar lá". Tem que chegar e explicar.
Como é sua sintonia com Felipe
Ximenes, vocês conversam sempre, ele vem com as
decisões...
Com decisão pronta ninguém
vem para mim... com decisão pronta... Isso não
é questão de Ximenes. Se chegar com "ó,
a decisão está pronta para você",
aí tromba. Nós conversamos: ele na área
dele, eu na minha, juntamos, ele decide a parte dele,
eu, a minha. Trabalhamos para o Flamengo. Nunca tivemos
amizade, conheci ele aqui. Tem a nossa relação
profissional.
Você ainda tem um capítulo
para escrever na seleção brasileira?
Acho que sim, acho que sim. Já aconteceu
com outros técnicos. A minha Copa, com todo respeito
ao Felipão, era a de 2002. Eu montei aquele time
praticamente todo. Testamos jogador, perdemos as Olimpíadas,
fomos campeões invictos da Copa América,
montamos uma estrutura. O Felipão entrou, pegou
19, 20 jogadores meus, porque eu já tinha feito
o grupo, mas com a competência dele. Aquela confusão
de CBF e CPI não tinha nada a ver comigo. Tanto
é que trabalho até hoje e nunca surgiu,
nunca teve nada meu. Continuo falando: se aparecer algum
cheque meu, alguma coisa... Nada. A única coisa
que eu tinha era Receita Federal. Fiz o Refis, como qualquer
cidadão físico ou jurídico. Profissional
que se dedicou, que tem pelos próprios companheiros
que dizem "Luxemburgo tem algo diferente"...
Gostaria de ter ficado, disputado uma Copa do Mundo. Mas
também, vou fazer o quê? Não dá
muito mais tempo, né? (risos).
Mas você faz planos? Até
65, 70 anos quero estar no campo?
Ainda estou com a p*** apontada para o céu,
ainda não estou mijando no sapato, não (risos).
Enquanto estiver apontada para o céu, eu vou.
Roupa vermelha no jogo é
da sorte?
Botei porque a Olympikus fez uma para mim,
vendeu para cacete, e a Adidas ainda não tem uma
para técnico. Coloquei aquela e ficou. Mas vou
usar outras.
E a coleção de relógios?
Roubaram um, né? Se fosse o do Flamengo,
dava uma cabeçada no filho da p***. Mas ainda tem
uns para eles roubarem.
Como vê o futebol no país
depois do 7 a 1? Calendário, organização,
mercado inflacionado com altos salários para jogadores?
Defendo o mercado inflacionado, pois tem
muita gente que ganha dinheiro no futebol sem ser o protagonista.
Dizem que jogador ganha muito, mas ele é o protagonista,
futebol não existe sem o cara. A CBF teve a grande
oportunidade de, depois da Copa, poder discutir. Tinha
um semestre para debater. Não colocava o Dunga,
Manoel ou Joaquim... Colocava o Gallo até o fim
do ano, pois não mudaria nada. E vamos fazer simpósios
com imprensa, técnicos, jogadores, todo mundo discutindo
o futebol brasileiro. Colocaram o Dunga e o que passou
a acontecer de novo? Discutir o Dunga, a renovação
do Dunga. Mas que renovação? Renovação
não é só jogador. Tem que fazer um
estudo geral do futebol brasileiro. Será que o
mercado pode pagar o preço dos jogadores. Se o
Campeonato Brasileiro está correto como é
disputado com 20 clubes caindo quatro. Discussões
que tem que ter.
O Flamengo há muito tempo
não revela jogador. O que acontece?
O mercado de futebol mudou, você não
consegue mais tirar o empresário. Ele está
inserido já, vai colocar jogador de 12 anos onde
for mais interessante. Qual foi o último ano que
o Flamengo vendeu jogador? Automaticamente, os caras não
querem ser parceiros do Flamengo. Tem que reconquistar,
fazer o cara acreditar que no Flamengo vai jogar, vai
se projetar, vai ser vendido. O Flamengo não dá
essa perspectiva. Da última vez, coloquei 17 jogadores
pensando em 2015. Mas nada aconteceu, foi para o espaço.
Esquece que o cara vai dizer que vai jogar no Flamengo
por ser o Flamengo.
Para o próximo ano, é
hora de pensar mais alto para o time de futebol ou seguir
a linha de administração adotada até
o momento?
Não vou confrontar a administração
com um pensamento que pode ser diferente. Tenho uma caixinha
virtual, e tudo o que eu acho coloco dentro dela, pois
não é momento de discutir o que eu acho.
No momento certo, abro a caixinha e digo: "Não
pode ser assim, assim...". Discutir agora é
ruim. Vou contribuir com que tenho, com a minha experiência.
Mas discutir agora se fez time certo, errado ou se deveria
ter feito assim não leva a nada no momento, só
traz problema. Mas a caixinha virtual está grande
para caramba (risos). No momento certo abro e digo: "Tem
isso, isso"... O meu pensamento: tudo no futebol
gira em torno de time. O São Paulo há três
meses estava f...: contrataram o Kaká, trocaram
o Pato pelo Jadson e já estão brigando por
alguma situação. Tudo se resume a time,
porque o retorno vem. Tendência a acontecer no Flamengo.