Desde a saída precoce da pequenina
Nortelândia até a noite desta quarta-feira
se passaram 14 anos. Quatorze anos para o sonho do menino
Everton, que deixou a família ainda criança,
se tornar realidade: jogar uma partida oficial no estado
onde nasceu. E em grande estilo, com a camisa do Flamengo
e num estádio de Copa do Mundo. Com seu fanatismo,
a torcida cuiabana já deu mostras de que a partida
contra o Goiás, às 22h (de Brasília),
será especial depois de 16 anos de saudade do Rubro-Negro.
Nenhum mato-grossense, porém, terá mais
motivos para se emocionar do que o camisa 22 do time de
Vanderlei Luxemburgo.
Canhoto, veloz e habilidoso, Everton não
precisou de muito tempo para chamar a atenção
em sua cidade natal, que hoje conta com cerca de 6 mil
habitantes. Em 1999, moradores de Nortelândia já
falavam do prodígio que deixava todo mundo boquiaberto
nos campinhos de futebol da cidade. Tanto que a fama chegou
aos ouvidos de um olheiro do Paraná Clube, que
passeava pelo local e foi determinante para mudar a vida
daquele que tem sido o principal jogador do Flamengo na
temporada.
– Um senhor foi passar as férias
na minha cidade, e eu já era muito falado. Disseram
que tinha um jogador com as minhas características,
ele foi me ver jogar e gostou. Meus pais na época
foram meio loucos por me deixarem ir com 11 anos. Mas
deu tudo certo. Fiquei oito anos no Paraná Clube,
o que mudou minha vida. Sou muito grato por tudo que fizeram
por mim. Morei um tempo com este olheiro. Era muito novo,
fui sozinho. É uma história bonita –
conta Everton orgulhoso.
Com o que conquistou através do futebol,
Everton tirou os pais do Mato Grosso – sua família
atualmente tem residência fixa no Paraná.
Nos primeiros anos, entretanto, o jovem aspirante a craque
aproveitava toda brecha para correr para o colo dos pais.
E não era fácil percorrer os 1.915km de
distância.
– Vinha de ano em ano de ônibus,
cerca de 24 horas de viagem. Só aos 17 anos, quando
tudo começou a melhorar, que consegui levar meu
pai e minha mãe.
Quando pisar na Arena Pantanal para enfrentar
o Goiás, Everton terá milhares de conterrâneos
ao seu favor. Mesmo como visitante, o estádio estará
pintado de vermelho e preto para decorar ainda mais as
imagens que vão passar pela cabeça do meia-atacante
antes de a bola rolar.
– Passa um filme. É difícil
imaginar que um jogador vai sair de onde eu saí,
uma cidade (então) com 4 mil habitantes, para depois
jogar num clube como o Flamengo. Voltar aqui e ver meus
tios, meus avós, todo mundo feliz, me deixa muito
grato.
Em toda carreira, Everton disputou apenas
uma partida no Mato Grosso: em 2013, um amistoso contra
o Cuiabá, pelo Atlético-PR. Nesta quarta-feira,
será a primeira vez como profissional, no jogo
número 82 com a camisa do Flamengo – em duas
passagens. Ao todo, são 41 vitórias, 22
empates e 18 derrotas, com dez gols marcados.