Quem poderá nos salvar?
Sexta-feira passada não foi um dia
comum. A queda de Zico do comando do futebol do Flamengo,
assim como sua entrada como dirigente a quatro meses atrás,
foi surpreendente. Surpreendente, mas não inesperada.
Choque e revolta foram sentimentos comuns a uma torcida
que viu seu maior ídolo questionando o seu amor
ao clube. E muitos seguiram o ídolo neste questionamento.
O marco da queda do Zico tem um significado
muito forte, pois dentro desta "religião"
chamada Flamengo, Zico tem o papel de salvador. Ao ver
o time sofrendo com péssimas administrações
e afundado em dívidas, boa parte da Nação
Rubro-negra sempre creditou este papel de "Messias"
a figura do Galinho. Aquele que viria e resolveria todos
os problemas e nos livraria de todos os males.
Seja no papel de diretor, presidente ou
até técnico, o dia da volta do Galinho parecia
cada vez mais um delírio de uma torcida cada vez
mais incrédula no resgate do time. Afinal, por
que ele deveria expor sua posição gloriosa
na história do clube com a responsabilidade de
reerguê-lo, mas agora fora de campo? Sua carreira
ascedente como treinador por Japão e Europa parecia
dificultar ainda mais a "volta". Mas ele voltou.
A chegada veio como uma redenção
para um time que sofria com os resultados abaixo do esperado
na temporada. A "melhor contratação"
do Flamengo foi feita extra-campo e o otimismo regressou
a Gávea. Mas logo esta "maré"
de mudança começou a incomodar. Surgiram
os vilões (como Capitão Léo) e as
notícias começaram a minar as bases. A torcida
mostrou seu apoio, mas se representamos muito no estádio,
temos pouca influência na política intra-muros
da Gávea. E ele sucumbiu.
A perplexidade pela notícia que ecoou
na madrugada de sexta-feira é pelo fato de estarmos
agora indefesos. Se ele era o único que poderia
nos ajudar e fracassou nesta missão, quem poderá
nos salvar? Isolado e enfraquecido politicamente dentro
do clube, Zico só mostrou que uma mudança
muito mais radical deve acontecer no clube. Figuras meramente
ilustrativas e restrições estatutárias
inibem mudanças drásticas num ambiente tão
infestado de interesses pessoais. "Abre o clube.
Vende o Flamengo", já disse o Leonardo uma
vez. E talvez seja esta a solução.
Por Marcus Kimura, engenheiro de
computação