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Aula de história

Principalmente após a derrota para o Bolívar, em La Paz, tenho visto muitos rubro-negros desdenhando do Campeonato Carioca. O culpam pela péssima campanha na Libertadores, mesmo após o Flamengo poupar titulares em pelo menos metade dos jogos deste Estadual. Esses torcedores consideram este campeonato como um fardo, preferiam que o Mengão sequer o disputasse, ou jogasse sempre com um time de juniores ou reservas. Eu lamento muito ver como existem tantas pessoas que se dizem Flamengo e desconhecem totalmente a história do clube pelo qual torcem.

O nosso clube se tornou um dos grandes do futebol brasileiro justamente através das conquistas em campeonatos estaduais até a década de 70. Todas as conquistas nacionais e internacionais que vieram depois foram consequência disto. Inclusive muitos rubro-negros mais “coroas” consideram o gol do título de 1978, marcado pelo Rondinelli, como o mais importante da história do Flamengo. Isso mesmo garotada, foi com um título carioca que começou a “Era Zico”. Aliás não apenas um título, e sim um Tricampeonato (78/79/79-Especial). Aliás isso não é exclusividade do Flamengo. Todos os grandes do futebol brasileiro se tornaram grandes através dos Estaduais.

Vale lembrar que não existiram campeonatos nacionais no Brasil até 1959, quando foi criada a Taça Brasil. Que na realidade não passava de uma seletiva para a Copa Libertadores. O primeiro Campeonato Brasileiro de verdade foi em 1967, quando o Torneio Rio-SP teve a inclusão de clubes de outros estados e passou a ser chamado de Taça de Prata. E ainda assim, ao menos até a década de 70 os campeonatos estaduais ainda eram considerados os mais importantes do Brasil, especialmente os de Rio e São Paulo. Até mesmo a Libertadores perdia em importância para o Estadual. Quem tem menos de 30 anos e lê isso acha que eu estou louco, mas pergunte para qualquer torcedor com mais de 50 anos que ele confirmará o que eu digo.

O rubro-negro que desdenha do Campeonato Carioca dá razão aos “arco-íris” que dizem que o Flamengo só se tornou um grande clube e passou a ter a maior torcida do Brasil graças à “Era Zico”. Ignoram os grandes esquadrões que realmente construíram a grandeza do Mengão e fizeram milhões de pessoas virarem rubro-negras, como o do 1º Tri Carioca de 42/43/44, com Domingos da Guia, Zizinho, Pirilo e Valido, o do 2º Tri de 53/54/55, com Rubens, Dequinha, Joel, Zagallo e Evaristo, ou o do início dos anos 60, com Carlinhos, Gérson e Dida. Sem estes times, o Flamengo seria hoje um América ou um Bangu.

Não pensem que eu sou um dos “coroas” citados no texto. Tenho 28 anos. Considero uma obrigação do cara que torce por um clube de futebol conhecer ao menos o básico da sua história. Não se ater apenas ao seu período de vida como torcedor. Se todos fossem como eu, certamente não veríamos tantos rubro-negros tratando o Estadual como lixo, como algo totalmente desprezível. Por pura ignorância, a pessoa que tem esta atitude está desdenhando da história do seu clube. Está cuspindo na cara de grande parte dos maiores craques da história centenária do Flamengo.

Não nego que os estaduais perderem muito apelo e importância neste século 21. Óbvio que os torneios nacionais e internacionais são muito mais relevantes. Porém o Estadual é parte importante da nossa história, e por isso não deve acabar. A melhor solução é encontrar uma fórmula de disputa que aumente o número de jogos decisivos, principalmente clássicos. Não dá para ficar dois meses participando de jogos deficitários contra Resendes, Friburguenses e Bonsucessos. Um torneio com os quatro grandes e os quatro melhores pequenos talvez seja o ideal para dar uma nova vida ao Campeonato Carioca e tentar resgatar ao menos o respeito dos torcedores por esta competição tão tradicional.

Por Daniel Marques, editor-chefe do site Flamengo MTM


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