Onde tudo começou
19 de setembro de 2013. Entravam em campo
no Maracanã dois times em situações
opostas no Campeonato Brasileiro: um tentando se afastar
da zona de rebaixamento, e o outro buscando se firmar
no G4. Ninguém imaginava o que viria pela frente.
Uma virada inacreditável, quase histórica,
ocorreria. Atlético-PR 4 x 2 Flamengo, após
o Mais Querido abrir 2 a 0. Uma sucessão de erros,
ofensivos e defensivos, levou ao surpreendente resultado.
Talvez nem tão surpreendente diante da situação
dos times na tabela. O rubro-negro paranaense saiu do
Maraca com a quarta posição consolidada,
enquanto o rubro-negro carioca ficou a apenas dois pontos
do temido Z4. Surpreendente mesmo seria a sucessão
de fatos que se desenrolaram após esta partida.
A começar pelo pedido de demissão
do técnico Mano Menezes. O gaúcho alegou
que já não conseguia fazer os jogadores
assimilarem o seu trabalho, e com isso seria melhor o
Flamengo ter outro técnico que se adaptasse melhor
ao atual elenco. Ou em outras palavras: o técnico
fuderosão superstar de seleção brasileira
não quis correr o risco de manchar sua carreira
ao ser o comandante de um iminente rebaixamento do Flamengo,
ainda mais com a possibilidade real de voltar ao Corinthians
em 2014 (o que realmente se confirmou). Mano não
acreditava mais no time, mesmo que o time ainda acreditasse
nele. Os pedidos dos jogadores foram inúteis, a
decisão do treinador já estava tomada.
O que esperar de um suposto time limitado,
que acabara de perder um suposto técnico de ponta
e que estava à beira do abismo? Muitos apostaram
que tanto o rebaixamento quanto a eliminação
na Copa do Brasil seriam questão de tempo. Três
dias depois, o empate sem gols contra o lanterna Náutico,
já com o então interino Jayme de Almeida
no comando da equipe, reforçou ainda mais as previsões
apocalípticas. A essa altura, ainda sem acreditar
em Jayme, a diretoria tentava desesperadamente convencer
Abel Braga a abrir mão de suas férias e
assumir o Flamengo nesta situação delicadíssima.
Mas Abelão, que não é bobo, recusou.
Qualquer outro técnico renomado faria o mesmo.
Sem outra opção, a direção
rubro-negra resolveu manter Jayme de Almeida até
o fim do ano. Com um técnico principiante, um elenco
fraco e jogadores abatidos pela saída de Mano,
a expectativa não poderia ser boa. Mas todos se
esqueceram apenas de uma coisa: NÓS ESTAMOS FALANDO
DE FLAMENGO! Qual outro clube no mundo tem tantas conquistas
na base da superação? Qual outro clube no
mundo tem tantos títulos conquistados quando ninguém
acreditava nele? Qual outro clube no mundo tem uma torcida
que faz tanta diferença em sua casa? Qual outro
clube no mundo tem esta capacidade de se reinventar, de
transformar perebas em craques, de transformar caneludos
em artilheiros, de transformar técnicos iniciantes
em vitoriosos?
ISSO É FLAMENGO! E quando o Flamengo
é Flamengo, somos imbatíveis. E assim chegamos
até aqui, superando todos os obstáculos,
derrubando favoritos, calando todos os críticos,
fazendo todo o Brasil lembrar mais uma vez que o maior
gigante do futebol brasileiro nunca morre! Contra todos
os prognósticos, contra todas as previsões
pessimistas, fomos vencendo, vencendo e vencendo, na base
da raça, da superação, da entrega.
Na última delas acabamos de vez com o risco de
rebaixamento, e na próxima conquistaremos o título
da Copa do Brasil. E se assim for, faremos um ano que
deveria ser desastroso terminar com uma festa da nação
rubro-negra em todo o Brasil.
19 de setembro de 2013. O dia em que tudo
começou. Nenhum atleticano poderia prever que aquela
virada levaria o Flamengo a ser o grande obstáculo
para o seu título inédito na Copa do Brasil.
Nenhum flamenguista poderia prever que aquela derrota
seria o pontapé inicial para tantas vitórias.
Devemos agradecer o Atlético-PR por isto? Lógico
que não! Se o Mengão não tivesse
perdido, só adiaria em algumas rodadas o pedido
de demissão de Mano. No primeiro resultado ruim
ele faria o mesmo. E tudo teria acontecido exatamente
do mesmo jeito. Temos é que dar o troco por aquela
noite terrível que quase 20 mil rubro-negros passaram
no Maracanã. Minha pior noite do ano. Uma das piores
noites de toda a minha vida.
27 de novembro de 2013. O dia para sacramentarmos
este momento mágico, de resgate da grandeza do
gigante Flamengo, tanto dentro quanto fora de campo. A
primeira decisão de clubes no novo Maracanã.
A chance de vencer um título nacional e retornar
à Copa Libertadores. A chance de consagrar um técnico
que ninguém apostava. A chance de consagrar jogadores
antes contestados. E acima de tudo, a chance de proporcionar
a 40 milhões de torcedores nossa melhor noite do
ano. Uma das melhores noites das nossas vidas. E tudo
isso contra o mesmo adversário daquele fatídico
dia, daquela fatídica noite. Onde tudo começou.
Por Daniel Marques,
editor-chefe do site Flamengo MTM