Cada jogo um futebol
A vitória no Fla-Flu do último
domingo deu sequência a enorme irregularidade do
time rubro-negro neste Campeonato Brasileiro. Nos últimos
quatro jogos vimos sempre um Flamengo diferente a cada
jogo. Contra o Bahia uma atuação totalmente
apática, com domínio total do adversário
e derrota acachapante. Quatro dias depois a melhor atuação
do time no campeonato e uma ótima vitória
contra o Atlético-MG. Na rodada seguinte outra
atuação abaixo do esperado contra a Portuguesa,
sendo punida com aquele gol de goleiro no último
minuto. E por último a atuação consistente
no clássico e uma vitória mais que merecida.
Afinal qual será o verdadeiro Flamengo?
Ficando apenas nos jogos da semana passada,
contra a Lusa tivemos um predomínio na posse de
bola, diante de um adversário bem fechado, mas
sem conseguir traduzir este tempo maior com a bola em
chances claras de gol. A única no primeiro tempo
foi desperdiçada bisonhamente por Hernane, e no
segundo tempo só criamos a jogada que originou
o pênalti que abriu o placar. Mesmo com um jogador
a mais na reta final do jogo, o Flamengo não soube
criar alternativas para ampliar o placar, tampouco soube
segurar a bola para ao menos garantir o 1 a 0. E essa
incompetência acabou “premiada” com
o inacreditável gol de empate no último
lance do jogo, tomando um gol de cabeça do mesmo
goleiro 10 anos depois. Algo inédito na história
do futebol.
Diante de um Fluminense também em
mau momento, mas superior tecnicamente, era difícil
fazer um prognóstico de como seria o jogo. Pois
eis que o Flamengo voltou a jogar bem, sendo superior
ao rival em praticamente todo o jogo. O placar de 3 a
2 ficou até barato para o Flu. Se fosse uns 4 a
1 traduziria melhor a nossa superioridade. Surpreenderam
as grandes atuações de Léo Moura
e André Santos. O experiente lateral-direito teve
a sua melhor atuação nos últimos
cinco anos, lembrou aquele grande jogador de outros tempos.
Já o
(re-)estreante da tarde mandou muito bem jogando fora
de sua posição original. Comandou o meio-campo
do Flamengo junto com Elias, ditando o ritmo das jogadas
do time. E o Hernane confirmou sua fama de “brocador”
em clássicos, fazendo gol até de letra.
A verdade é que o Flamengo tem uma
característica histórica de crescer contra
os grandes e encolher contra os pequenos. Somos capazes
de grandes conquistas contra adversários mais fortes,
como no Tricampeonato Carioca entre 1999 e 2001 contra
o Vasco mais vitorioso da história, e o título
da Copa Mercosul de 1999 contra um fortíssimo Palmeiras,
campeão da Libertadores. E ao mesmo tempo de tropeços
inacreditáveis, como contra o Serrano em 1980 e
o Santo André em 2004. Até mesmo na conquista
do Hexa o time de Petkovic, Adriano e cia. não
conseguiu vencer os dois jogos contra Avaí e Barueri,
ao mesmo tempo em que conquistou vitória épicas
contra os líderes Palmeiras e Atlético-MG
fora de casa.
Nas próximas três rodadas do
Brasileirão este histórico será posto
novamente à prova. Nesta quarta-feira enfrentaremos
o Goiás no Serra Dourada. Mais um adversário
de menor expressão que pode complicar a nossa vida
caso o Flamengo não jogue como Flamengo. No fim
de semana pegaremos o desesperado São Paulo, em
Brasília, e uma semana depois o bom time do Grêmio,
também na Capital Federal. Pela lógica é
possível buscar sete pontos nestes três jogos,
como foi nos três anteriores - que poderiam ter
sido nove, não fosse a bobeira no final contra
a Lusa. Mas com este Flamengo atual é difícil
falar em lógica.
A única certeza neste momento é
a evolução tática do time com Mano
Menezes. Já vi alguns torcedores e até jornalistas
dizendo que o Mano é o craque do time. Não
acho que seja para tanto, mas sem dúvidas o trabalho
dele é superior ao dos antecessores Jorginho e
Dorival. O nosso elenco segue sendo limitado, com um time
titular mediano e poucas boas opções de
banco, mas agora temos um time organizado. Pode até
tropeçar nas suas próprias limitações,
mas não por estar mal armado. Já é
o mínimo necessário para se salvar do rebaixamento
sem sustos. E se os outros derem mole... Quem sabe não
chegamos ao G4?
Azar no sorteio
O sorteio do chaveamento das oitavas-de-final
da Copa do Brasil foi o pior possível para o Flamengo.
Poderíamos ter cruzando com adversários
inexpressivos como Salgueiro, Luverdense e Nacional-AM,
ou ao menos contra os medianos Atlético-PR e Goiás.
Mas o jogo será só contra o Cruzeiro, líder
do Brasileirão e imbatível no novo Mineirão...
E caso passe por este dificílimo duelo, enfrentará
nas quartas o vencedor do confronto entre o campeão
da América (Atlético-MG) e o vice-líder
do Brasileirão (Botafogo). Nossa esperança
para ainda sonhar com esse título é se apegar
ao histórico de crescer contra grandes adversários.
Pois se der a lógica, já estamos fora.
Por Daniel Marques,
editor-chefe do site Flamengo MTM