Banco rubro-negro
Quem leu as minhas últimas colunas
deve ter percebido que eu não ando muito feliz
com os rumos do Flamengo atualmente. E na última
semana minha insatisfação só aumentou,
diante de algumas situações lamentáveis
que ocorreram no Mais Querido. A atual diretoria me parece
bem intencionada, mas está errando feio ao ir contra
a história e a tradição do clube
apenas em nome do dinheiro. Todos sabemos da situação
financeira calamitosa deixada pelos que passaram por lá
nos últimos 20 anos. Porém não será
esta postura de “dinheiro a qualquer custo”
que fará o Flamengo se reerguer e voltar ao topo.
Elitizar o clube mais popular do país é
um crime, até mesmo contra o futebol brasileiro.
Colocar o ingresso mais barato a R$ 100
é alijar os torcedores trabalhadores e honestos
de verem o seu clube do coração no estádio.
Privilegia apenas os que têm condição
de serem sócios-torcedores e que ao mesmo tempo
sejam estelionatários que falsificam carteirinhas
de estudante. Esses pagam apenas R$ 25,00. Ou seja, para
a diretoria do Flamengo o torcedor pobre e honrado agora
é descartável, é isso? O torcedor
que faz da nação rubro-negra a maior torcida
do mundo não tem mais vez no Maracanã, é
mesmo? Será que Bap, Fred Luz e cia. sabem que
estão administrando o Flamengo, o clube do povo,
e não o Fluminense?
Eu não estou dizendo que todos os
ingressos devem ser a preços populares. Nem mesmo
a maioria deve ser. Mas ao menos nos setores menos nobres
do estádio tem que haver ingressos acessíveis
aos torcedores de baixa renda. Tirar destas pessoas o
privilégio de assistir o Flamengo no estádio
pode até mesmo fazer nossa torcida diminuir à
médio prazo. Em lugar nenhum do mundo os clubes
ditos “de elite” têm a maior torcida.
E aqui no Brasil não será diferente. O exemplo
da “muralha amarela” do Borussia Dortmund
deveria ser seguido pela nossa diretoria. E estamos falando
de um clube que quase foi à falência anos
atrás, e nem por isso precisou tirar seus torcedores
mais pobres do estádio para se reerguer financeiramente
e esportivamente.
Outra situação que muito me
irritou foi a confirmação de que todos os
jogos com mando de campo até o fim do turno serão
em Brasília. Essa decisão é errada
em vários aspectos: 1º - Aumenta o desgaste
do time com viagens constantes; 2º - Breca o aumento
no número de sócios-torcedores do Rio de
Janeiro que vinha ocorrendo desde o anúncio do
acordo pelo Maracanã; 3º - Com vários
jogos seguidos em Brasília os públicos tendem
a diminuir a cada partida, principalmente nas de menor
apelo (como contra Portuguesa e Vitória); 4º
- Faz com que o time siga sem ter uma casa fixa, onde
tenha uma identidade como mandante.
Devido ao sucesso de público e renda
nos jogos contra Coritiba e Vasco, eu até sou favorável
a ideia do Flamengo mandar jogos no Mané Garrincha.
Mas desde que seja apenas um por mês, talvez dois.
Os outros devem ser no Maracanã. Desta maneira
se mantém o interesse do torcedor tanto no Rio
quanto em Brasília, garantindo sempre bons públicos
e rendas polpudas. Se estiverem achando que jogar constantemente
na Capital Federal vai ser garantia de ganhar mais dinheiro
do que jogando no Rio, terão uma grande decepção.
Parece que a ânsia de fazer muito caixa em pouco
tempo está tirando a sensatez desta diretoria de
grandes empresários... Uma pena!
Para fechar, o maior absurdo da última
semana: o “rebaixamento” dos garotos Mattheus,
Thomás e Rodolfo para os juniores. Com tantas contratações
desnecessárias, que só atendem ao interesse
de empresários, era até previsível
que algo do tipo acontecesse. Entramos em campo contra
o Botafogo sem nenhum titular formado no clube. Ao passo
que jogadores desconhecidos do interior paulista, como
Diego Silva, Val e Bruninho, mal chegaram e já
tem várias chances no time titular. Coincidência
ou não, desde que Mano Menezes assumiu o time todos
os contratados pelo Pelaipe passaram a ser muito mais
aproveitados... Enquanto isso até garotos que já
se destacaram este ano, como o Rodolfo, sequer tem mais
lugar no elenco. Um crime contra o Flamengo!
E para quem acha que eu fico muito satisfeito
de vir neste espaço toda semana para falar mal
do Flamengo, saibam que isso me destrói por dentro.
Quando apoiei e fiz campanha pela Chapa Azul na eleição,
não esperava estar aqui hoje criticando tantos
erros que eles estão cometendo, com a conivência
de grande parte da torcida... Quer saber? Estou cansado
disso tudo! Nunca imaginei que o calcanhar de Aquiles
desta diretoria seria justamente o trabalho no departamento
de futebol. Seguem os fracassos, seguem as negociatas,
segue o desprestígio com a base, segue o desrespeito
com o torcedor, segue o Flamengo não sendo Flamengo...
Tudo em nome do dinheiro! Pra mim chega!
Por Daniel Marques,
editor-chefe do site Flamengo MTM