Base x Desconhecidos
Não gostaria de ser repetitivo, porém
acho que se faz necessário neste momento falar
novamente dos “reforços” que o Flamengo
está prestes a anunciar e as consequências
destas contratações. A principal delas é
tirar o espaço das promessas que estão surgindo
nas categorias de base do clube, além de deixar
o time cada vez mais longe da qualidade necessária
para alcançar vôos mais altos nesta temporada.
Para ninguém dizer que estou “cornetando
por cornetar”, irei explicar detalhadamente o porque
de, na minha opinião, estas contratações
serem péssimas para o clube. E também porque
já acho que o trabalho do departamento de futebol
é o pior da atual direção até
o momento.
Primeiramente vale observar que o Flamengo
há muito tempo não tinha uma geração
na base tão boa quanto a atual. Talvez desde aquela
do início da década de 90 que também
conquistou a Copinha. São vários jogadores
que, na sua maioria, estavam na conquista de 2011 e já
mostraram que podem ao menos compor o elenco no profissional.
São garotos que já conhecem a pressão
de jogar no Flamengo e tem os seus direitos federativos
e econômicos ligados ao clube. Alguns deles já
disputaram uma boa quantidade de jogos na Série
A do Brasileirão, como Frauches, Adryan e Thomás.
E outros também já aturaram pelo profissional
no Carioca deste ano, como Rodolfo, Rafinha e Igor Sartori.
Boa parte destes garotos já tem mais
experiência em jogos minimamente importantes do
que esses possíveis reforços do interior
paulista. Na minha opinião existem cinco níveis
diferentes de times pequenos: os da Série A, da
Série B, da Série C, da Série D e
os que só jogam torneios estaduais. Obviamente
que quanto mais forte o campeonato que disputam, maior
a chance dos seus melhores jogadores terem potencial para
jogar num grande clube. E o Flamengo foi buscar boa parte
de seus reforços justamente no nível mais
baixo possível, onde a possibilidade de acerto
na contratação é bem menor.
Paulinho (24 anos), Diego Silva (23) e Bruninho
(23) já não são mais garotos. Os
três já estavam há um alguns anos
nos seus clubes de origem (XV de Piracicaba e Atlético
Sorocaba), e dois deles só jogaram até hoje
nas três principais divisões do Paulistão
(A1, A2 e A3). Apenas Diego Silva teve uma rápida
passagem pelo Barueri na Série B do ano passado,
tendo disputado apenas seis partidas com o time já
rebaixado. Não chega a ser regra, mas normalmente
quando um jogador é realmente bom ele se destaca
com 19, 20, até 21 anos. Se até esta idade
nenhum destes jogadores chamou a atenção
nem mesmo de times da Série C, não devem
ser a solução para as carências de
um Flamengo. Ainda mais vindo de clubes que passaram a
maior parte do Campeonato Paulista brigando para não
cair.
Não quero ser leviano, mas este tipo
de contratação tem toda pinta de ser motivada
por “influências externas”. Vale lembrar
que toda transferência de jogador gera comissões.
E aproveitar jogador da base é de graça,
teoricamente não gera dinheiro a ninguém.
Ao passo que nas contratações destes jogadores
poucos expressivos todos vêm emprestados, e caso
o Flamengo queira ficar com eles teria que gastar ainda
mais para comprar ao menos uma parte dos seus direitos
econômicos. E assim corre-se o risco de se desperdiçar
mais uma geração talentosa das categorias
de base, tal como ocorreu com aquela de Djalminha, Marcelinho,
Paulo Nunes e cia. Investe-se na formação
de jogadores para depois lhes tirar espaço com
esse tipo de contratação ridícula.
E o que é pior, a cada reforço
inexpressivo que contratam diminuem as chances de chegarem
os prometidos “cinco reforços em condição
de serem titulares”. Afinal não dá
para fazer um elenco com 39, 40 jogadores. E se outros
nomes do quilate de Marcelo Moreno não chegarem,
esqueçam qualquer possibilidade do Flamengo fazer
boas campanhas nas competições nacionais
em 2013. Num momento em que nunca se viu tantos times
fortes no futebol brasileiro (até mesmo nos “fracassados”
Botafogo e Atlético-MG), infelizmente o Mengão
vai ficando para trás. O trabalho do marketing
melhorou muito nas últimas semanas, agora chegou
a hora do pessoal do futebol evoluir também, senão
podem ir dando adeus à tão sonhada Libertadores
2014.
Por Daniel Marques,
editor-chefe do site Flamengo MTM