Verdade de hoje é a mentira de amanhã
Na minha última coluna eu fiz uma
coletânea com várias críticas que
havia feito em colunas anteriores. Críticas que
eram totalmente apropriadas para a situação
que o Flamengo vivia no momento em que ela foi publicada.
Pois eis que horas depois o Mengão enfia uma goleada
sobre o Atlético-MG, e na rodada seguinte consegue
uma boa vitória fora de casa contra o América-MG.
Após esses dois jogos, menos de uma semana depois,
aquela coluna perdeu todo o seu sentido. Acham que eu
estou arrependido do que escrevi? Nem um pouco, não
retiro uma vírgula.
Há muito tempo eu aprendi uma lição
que toda pessoa que se arrisca a comentar futebol deveria
saber: No futebol, a verdade de hoje pode ser a mentira
de amanhã. Antes daquela bola do Ronaldinho entrar
no ângulo do goleiro Renan Ribeiro, quem poderia
contestar uma crítica às atuações
do R10? Ou ao trabalho do Luxemburgo? Ou a falta de atacantes
de qualidade no elenco? Mas em apenas 25 minutos todos
esses questionamentos, até então pertinentes,
começaram a cair por terra.
Ronaldinho fez uma partidaça, como
nos velhos tempos de Barcelona. Luxemburgo foi decisivo
para a vitória ao acertar nas substituições,
e o contestado Deivid marcou dois gols e garantiu a goleada
sobre o Atlético-MG. E com isso um time que só
empatava e jogava mal (até mesmo nesta mesma partida
até chegar ao 1º gol) passou a ser exaltado,
e todos os problemas e o princípio de crise foram
parar debaixo do tapete. A vitória seguinte contra
o América-MG só veio à corroborar
essa nova realidade de momento no Flamengo: de contestado
a exaltado, em menos de uma semana.
Em Sete Lagoas, novamente Ronaldinho fez
gol(s) e foi decisivo para a vitória, Luxemburgo
melhorou o time nas substituições e Deivid
voltou a marcar, com um gol típico de centroavante
artilheiro. A distância para o líder, que
antes era de oito pontos, já caiu para apenas três.
E o ataque do Flamengo, tão criticado por todos,
já é o melhor do campeonato, com 16 gols
em sete rodadas. Sem falar na chegada de Ronaldinho à
liderança da tabela de artilheiros. O mesmo Ronaldinho
que até sábado passado era vaiado e contestado
pela própria torcida rubro-negra, e hoje já
voltou aos braços da galera.
Mas mesmo neste bom momento atual há
espaço para críticas. A defesa continua
sofrendo gols bobos, principalmente em falhas do fraco
zagueiro Welinton. E alguns torcedores ranzinzas chegam
até ao ponto de criticar o Willians, que rouba
muitas bolas mas também comete muitas faltas. Se
esquecem que o maior ladrão de bolas do Brasil
vem jogando totalmente sobrecarregado, pois na prática
é o único volante de verdade que tem sido
escalado. Entretanto, basta o Aírton entrar no
time que o número de faltas do Willians deve cair,
e aí essas críticas sumirão. Assim
como é só o Flamengo ficar dois jogos sem
sofrer gols que vão até esquecer as claras
limitações da nossa defesa.
Da mesma forma que os agora exaltados Ronaldinho
Gaúcho e Deivid foram muito criticados e rapidamente
deram a volta por cima. Mas com a mesma velocidade podem
voltar a ser criticados, caso não mantenham a boa
sequência atual... Essas mudanças constantes
é que fazem o futebol ser um esporte tão
apaixonante, que o tempo inteiro derruba nós comentaristas
de plantão. É um dos poucos esportes em
que o mais fraco ganhar do mais forte é uma coisa
normal, que acontece o tempo todo. E que numa mesma partida
um jogador pode ir de vilão a herói em apenas
um lance. Ou vice-versa.
Dentro desta imprevisibilidade, os próximos
três jogos devem ser fundamentais para se ter uma
real dimensão de onde este Flamengo pode chegar
no Campeonato Brasileiro. São confrontos diretos
contra São Paulo, Fluminense e Palmeiras, todos
adversários fortes e que estão brigando
na parte de cima da tabela. Dependendo dos resultados,
nós poderemos saber se o Flamengo real é
o das críticas após quatro empates seguidos
ou o dos elogios após duas vitórias convincentes.
Por Daniel Marques,
editor-chefe do site Flamengo MTM