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O adeus de um ídolo

27 de maio de 2001. O Flamengo vencia o Vasco na decisão do Campeonato Carioca por 2 a 1, resultado que era insuficiente para garantir o título estadual. Aos 42 minutos do segundo tempo, Edílson é derrubado por Fabiano Eller um pouco além da intermediária do campo de defesa vascaíno. A jogada segue, Alexandre Torres chuta a bola para escanteio, mas o juiz resolve parar e marcar a falta. O Maracanã inteiro pára, na expectativa do que poderia acontecer. Um minuto depois, Petkovic bate a falta com uma perfeição incrível, coloca a bola no ângulo, sem chances para Hélton. O gol garantia o quatro Tricampeonato Estadual da história do Flamengo e colocava o nome do craque sérvio na história do futebol rubro-negro. Pois dez anos depois chegou a hora do adeus a um dos maiores ídolos do Mengão.

Como não poderia ser diferente, a coluna de hoje é uma homenagem ao jogador mais importante do Flamengo após a Era Zico. Possivelmente o maior ídolo da minha geração, que não teve o privilégio de ver os feitos de Zico, Júnior, Leandro e cia. ao vivo. Mas teve sim o privilégio de ver Pet honrar a camisa 10 de Dida e Zico. Que já com a camisa 43 lembrou o título de 2001 não apenas no minuto do gol histórico, mas também mostrando um futebol que muitos não acreditavam que o já veterano ainda pudesse jogar. Como se apenas marcar aquele golaço decisivo já não bastasse, Dejan Petkovic sacramentou de vez o seu nome entre as maiores lendas do Flamengo ao conduzir o clube ao Hexa Brasileiro de 2009.

Por sete anos o maestro andou desafinando ao vestir camisas feias, que nada tinham a ver com ele. Pois o rubro-negro era o seu destino, a sua marca. Passou até por nossos dois maiores rivais, jogou bem, mas nunca fincou raízes de ídolo. Pois ele é muito Flamengo para fazer história por qualquer outro clube menor. Estava predestinado a ser um ídolo da maior torcida do Brasil, e como tal só conseguiria reencontrar a glória no futebol jogando pelo Mengão. E para isso não importava a idade, a condição física ou técnica, era só promover o reencontro de Pet com a sua segunda pele que só poderia dar samba.

Pois em meados de 2009 o craque chegou de mansinho, teoricamente apenas para acertar uma dívida antiga e jogar alguns joguinhos nos minutos finais para encerrar sua carreira no clube onde já estava marcado na história. Mas esse fim era muito pouco para uma história tão gloriosa. E Pet foi entrando no final dos jogos sim, mas a cada partida mostrava um futebol melhor. Num time em dificuldades no campeonato, não demorou a arrumar um lugar no time titular. E foi crescendo junto com o time, que a cada rodada ia deixando de ser um mero coadjuvante para se tornar um sério candidato ao título brasileiro.

E o crescimento dessas duas almas gêmeas se consolidou com duas vitórias históricas fora de casa. A primeira contra o então líder Palmeiras, onde Petkovic só faltou fazer chover. Marcou um golaço no primeiro tempo após driblar três jogadores adversários, e no segundo acertou um gol olímpico. Depois veio o também postulante ao título Atlético-MG, num Mineirão lotado de atleticanos. Mas Flamengo e Pet não se intimidaram, e novamente o craque sérvio marcou um gol olímpico, desta vez acertando o ângulo do goleiro Carini. Duas vitórias de campeão brasileiro, sob a batuta do maestro Petkovic.

No jogo decisivo contra o Grêmio o craque não arrebentou como nas duas “decisões” anteriores no campeonato, mas o gol do título não poderia sair de outro pé que não fosse o dele. Fierro já estava à beira do campo, pronto para entrar em seu lugar. Mas ainda havia tempo para Pet bater um escanteio. E ele o fez, com a precisão que sempre o marcou, colocando a bola na cabeça de Ronaldo Angelim. O Flamengo fazia 2 a 1, e após 17 anos voltava a comemorar um título brasileiro. Contratação mais badalada do time, Adriano levou praticamente todos os holofotes pela conquista. Mas nos momentos mais importantes da campanha foi Petkovic quem brilhou.

E agora, no dia 05 de junho de 2011, após ser responsável por duas das maiores conquistas da história do Flamengo, chegou aquele dia inevitável, o dia do adeus. Muitos criticam o fato dessa despedida ser num jogo oficial, valendo três pontos, mas não poderia ser de outra forma. Um mero jogo amistoso não estaria à altura desse grande ídolo. Uma relação tão vitoriosa só poderia terminar num grande jogo, contra um grande adversário, com o estádio lotado. Toda reverência da nação rubro-negra a Petkovic neste momento é totalmente justa e merecida. Eu estarei lá, e mesmo que ele não me escute gritarei do fundo da minha alma: obrigado Pet!

Por Daniel Marques, editor-chefe do site Flamengo MTM


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