Momento de mudanças
Quem espera que eu venha exaltar esse empate
com um gol no último lance do jogo vai ter uma
decepção com o que vem pela frente... Com
todo o respeito ao Botafogo, para mim com o time que o
Flamengo tem e o time que o rival tem é uma vergonha
nós ficarmos dois jogos seguidos sem vence-los,
e quase perdendo ambos! Vale lembrar também que
diante do Vasco a vitória só não
escapou graças a dois pênaltis defendidos
pelo Bruno, algo incomum num grande clássico. Mas
contra o Universidad do Chile não teve goleiro
e nem Imperador que salvasse: derrota e perda da liderança
do grupo na Copa Libertadores.
Para mim está bem claro que o Flamengo
não está tendo um desempenho à altura
do time que tem. E isso não vem só dos últimos
jogos, desde o início da temporada o time tem errado
muito e algumas vezes joga com uma apatia de dar raiva...
Até na grande vitória sobre o Fluminense
nós escapamos de tomar uma goleada no primeiro
tempo, dada a superioridade do time tricolor. Só
foi reagir e virar o placar após tomar uma chacoalhada
do Andrade no intervalo. Os números positivos (12
vitórias e apenas duas derrotas em 16 jogos) podem
até mascarar um pouco a realidade, mas é
só parar para analisar o desempenho do time nos
jogos mais difíceis que fica bem claro que algo
precisa ser mudado.
A começar pela defesa. Mais uma vez
a dupla de zaga Álvaro e Fabrício deixou
muito a desejar. A facilidade que o Herrera teve para
fazer o segundo gol do Botafogo chega a ser constrangedora...
O Álvaro já não tem mais pique para
acompanhar nenhum atacante adversário, principalmente
se este for veloz. E o Fabrício a cada jogo me
lembra mais o Fernando (atual zagueiro do Vasco) nos tempos
de Flamengo: um zagueiro estabanado e precipitado. É
só o apertar um pouco que já sai dando chutão
para onde o nariz está apontado. Sou obrigado a
afirmar pela milésima vez o quanto é fundamental
contratar um zagueiro de qualidade para esse time! E enquanto
ele não chega, que se troque novamente a dupla
de zaga, com a volta dos heróis do Hexa: David
e Ronaldo Angelim.
Outro problema sério são os
erros de passes na saída de bola, principalmente
dos laterais e dos volantes. Tanto o segundo do gol da
Universidad quanto o do Botafogo saíram justamente
em erros desse tipo. Sem falar nas falhas de marcação
que ocorreram em vários momentos do clássico.
Esses dois problemas são de fácil solução:
botar o Maldonado para jogar. Se ele já está
recuperado da contusão, porque só fica no
banco? Ritmo de jogo só se adquire jogando, e mesmo
não estando 100% fisicamente o chileno é
muito melhor que o Toró!
Sem sair do meio, ao menos o Andrade já
acertou ao promover o retorno do Pet ao time titular.
Ele não chegou a ser decisivo contra o Botafogo,
mas dá um toque de qualidade ao meio-de-campo rubro-negro.
É o único ali que tem condições
de colocar os atacantes na cara do gol. E o Vinícius
Pacheco jogou melhor nesta partida entrando apenas no
segundo tempo do que nas anteriores em que foi titular.
Acho que essa inversão tem tudo para dar resultado
nos próximos jogos.
Outra situação preocupante,
esta mais específica dos últimos três
jogos, é a queda de rendimento do Império
do Amor. Pode parecer loucura dizer que o Imperador não
jogou bem num jogo em que fez os dois gols que garantiram
o empate ao Flamengo, mas essa é a realidade. Ele
até cumpriu o seu papel de centroavante goleador,
mas não atuou bem novamente. Não consegue
dar sequência a vários lances, parece estar
pesado. E o Vagner Love, apesar de continuar se desdobrando
em campo, também tem tido atuações
fracas ultimamente. Erra a maioria das jogadas que tenta,
e até quando acerta está dando azar da bola
não entrar.
Por último, acho que em alguns momentos
o time peca um pouco por achar que o jogo pode se resolver
apenas com a qualidade técnica dos seus grandes
jogadores. Acho que está faltando um pouco mais
de raça em alguns momentos, e isso vai muito do
estilo meio apagadão do técnico Andrade.
Falta um cara que motive mais esse time a correr em campo,
pois muitas vezes o Flamengo tem ficado abaixo dos adversários
em termos de rendimento justamente pelo fato dos caras
correrem mais do que os jogadores rubro-negros. Eu posso
até estar exagerado um pouco neste aspecto, mas
tenho tido essa impressão de que algumas vezes
estamos sendo superados na raça por adversários
inferiores tecnicamente. E isso não pode acontecer,
ainda mais se tratando de Flamengo.
Esse primeiro semestre ainda tem tudo para
ser vitorioso para o Mengão. Estamos bem próximos
da classificação para a semifinal da Taça
Rio, e basta vencer os dois jogos no Maracanã que
a vaga para as oitavas da Libertadores estará garantida.
Mas para evitar uma nova derrota num jogo decisivo (como
ocorreu na semifinal da Taça GB), mudanças
são necessárias. Não adianta nada
ficar exaltando um empate no último minuto contra
um adversário inferior tecnicamente... Esse jogo
na verdade foi sintomático dos defeitos do time
que devem ser corrigidos. Existe linha tênue entre
a glória e o fracasso, e o lado para qual o Flamengo
penderá vai depender da percepção
do momento propício para se tomar atitudes enérgicas,
independente de números favoráveis ou resultados
heróicos.
Por Daniel Marques, editor-chefe
do site Flamengo MTM