A vingança
Saudações Rubro-Negras! Hoje
vamos discorrer sobre um tema que durante nove anos foi
um filme de terror na vida de milhões de Flamenguistas.
No dia 15/11/1972 eu tinha nove anos de idade e a cidade
maravilhosa vivia mais um dia de muito calor, o que não
era nenhuma novidade. Como sempre fazíamos, fomos
para rua jogar nossa famosa pelada (Fla X Bota), camisa,
calções, meiões, juiz, tudo como
manda o figurino. O Mário Filho ficava aqui na
Rua Principado de Mônaco, pequena rua sem saída
localizada no bairro de Botafogo.
Vencemos a pelada, porém, ao final
do dia estávamos tristes e desolados, pois o Mengão,
o time do nosso coração e de nossas vidas,
foi humilhantemente castigado pelo Botafogo em goleada
histórica, o famoso 6 X 0. Como explicar o inexplicável?
Como entender o baile que o Rubro-Negro levou de Jairzinho,
Fischer e Ferreti? Nove anos de muita tortura e gozação
do manequinho, aquela estátua mijona do Mourisco.
Houve um jogo em que passamos perto, 4 X 0, mas os filhos
da mãe faziam com as mãos o sinal de seis.
Humilhação e gozação.
Passados nove anos daquele dia fatídico
Flamengo e Botafogo entraram em campo no dia 08/11/1981,
para mais um grande jogo. O que ninguém sabia era
que os Deuses Rubro-Negros nos dariam um presente que
lavaria nossas almas para sempre. Incrível, fantástico,
extraordinário o que se viu dentro das quatro linhas.
O flamengo jogava de forma frenética e destruidora.
Aos 35 do primeiro já estava 3 x 0. Os botafoguenses
ainda gritavam seis a zero quando Adílio, o neguinho
esperto da cruzada fez 4 X 0 ainda nos primeiros quarenta
e cinco. Deu para sentir a torcida do Botafogo engolir
seco, como quem pressente a catástrofe chegando.
E chegou. No segundo tempo o Manequinho
resolveu se segurar de todas as formas para evitar o pior.
O jogo ficou pesado e dramático. O quinto gol só
saiu aos 30 do segundo com o galinho cobrando penalidade
máxima. A esta altura somente Flamenguistas no
maior do mundo cantando e empurrando o Flamengo de todas
as formas possíveis e imaginarias. O jogo caminhava
para o seu final e os poucos Botafoguenses que se atreveram
a permanecer no estádio riam fazendo o sinal de
seis. Eis que aos quarenta e dois minutos em uma bola
rebatida pela defesa alvinegra, Andrade que hoje é
nosso técnico soltou uma bomba fazendo 6 X 0.
Nossa alma estava lavada, nossa vingança
chegou depois de nove anos. Foi uma Catarse. Muita festa
e loucura por todo o Brasil, aliás, por todo o
planeta. Terminou a agonia. Nossos heróis choravam
dentro de campo, fora, histeria total. O castigo veio
na medida exata, seis, somente seis neste dia, nem mais
nem menos. O craque Jairzinho que participou das duas
partidas históricas provou do próprio veneno.
Calou-se o Manequinho do Mourisco, cessaram as gozações,
terminou para sempre o famoso sinal de seis. Dessa forma
lavou-se a alma dos pequenos Rubro-Negros da Rua Principado
de Mônaco e muito mais que isso, o dia da vingança
Rubro-Negra chegou.
Por Antonio Meninéa, radialista
e cronista esportivo